Deixem que toquem fogo primeiro.
- Victor Câmara
- 24 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

“Não há vida lá fora!” Eis suas bandeiras. Caluniam o sol por queimar as retinas; amaldiçoam os ventos por levarem suas fundações de areia; cortaram as asas para aprenderem à caminhar e, não suficiente, desenvolveram o rastejo às custas das pernas para melhor atacar; queimam florestas, da qual também fazem parte, na intenção de que as chamas te engolfem, mas se esquecem de que aprendeu a renascer há muito tempo atrás.
E aí te pergunto, é esse mundo da qual queres fazer parte? Infelizmente, às vezes, a única maneira de separar o joio do trigo, é através das chamas. E a Vida nos comprova de que sempre será possível se recuperar, em que pese as tentativas de subverte-la.
Não se prendam ou se desesperem para ser o primeiro em tudo, quando a solução é simplesmente viver em conformidade com seu Ser. Atacar primeiro é a melhor defesa, eis uma grande falácia moderna.
Atacamos primeiro porque não estamos fortes e ricos o suficiente para aguentar ou exercer força contrária contra esse pobre e parco levante. Como no bosque em que Zaratustra exorta a cobra, para que recolha o veneno que depositou (pois, sem ele, estará indefesa e ainda mais débil), incentivem que melhorem o fel antes de o ofertarem. A maçã ainda não está suficientemente podre para que me ofereça!
Também não se contentem em dar migalhas sob a justificativa que as grandes coisas são recusadas, porque os outros não a sabem receber. Vocês não são pobres o suficiente para simplesmente ficaram fornecendo cestas, ao invés de toneis!
Que os outros sorvam-se do seu supérfluo; que os outros se contentem com as sobras de seu Ser, isso é, as superficialidades que debilmente compreendem serem seu cerne; que o outros reclamem de sua intensidade, bem como da sua falta para com eles porque nesse mundo de massas tudo é insuficientemente completo.
Simplesmente, deixem.
Deixem que cavem sua cova, pois, dessa forma, estarão absortos e incumbidos nesse sentido. Deixem cavar o mais profundo possível e lhes deem até mesmo dicas de como melhora-la. Como diz o ditado “cava mais que tá poco”.
Deixem que construam moradas nesses buracos cavados por eles e designados para você. Não enxergam que estão amontoando terra neles mesmos.
Deixem cavar, pois, enquanto cavam, na verdade estarão cavando as próprias covas que acreditavam estarem preparando para ti. Sequer percebem que gastam a maior parte da vida tentando seguir ou impedir os passos de outrem. Eis as origens da Inveja.
Aproveite o tempo em que desperdiçam para lhe atingir, e banhe-se do sol com um refresco. Igualmente, não desperdice suas forças para convence-los do contrário, pois, esse é único prazer que essas pobres criaturas possuem.
Não temam descansar nas beiradas desse abismo preparado supostamente para te enterrar, haja vista que o único meio que possuem para continuar vivendo é exatamente deterem a sua atenção para essa obra maliciosamente orquestrada pela pequenez de seus espíritos e estreiteza das suas mentes. Vermes que estão tanto tempo dentro da terra que acabaram por perder todos os sentidos que, para nós, são essenciais na vida.
Hetep!
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