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" Chill Vibes "

  • Victor Câmara
  • 17 de ago. de 2018
  • 4 min de leitura



“Fuja de situações estressantes”; “busque situações que lhe deem paz”; “escolha algo que lhe dê prazer e nunca mais precisará se estressar” são alguma das expressões carros chefes do entendimento moderno, resultante de uma geração que deixou de ser comandada explicitamente para tornar-se intrinsecamente mimada e mais maleável.


Faço uma pergunta: A situação que é estressante ou nós que nos deixamos ser estimulados por ela? Como buscamos satisfazer ou extravasar esse estresse? (Os nuances dessa pergunta, ficarão para outro texto. Contento-me, por enquanto, em simplesmente em transcrever o poema de Charles Baudelaire – O albatroz). Pedimos tanto, mas acredito que pedimos errado; assim como nos aliviamos em benefício de terceiros.

Essa ideia vem crescendo dentro de mim, desde que escutei a seguinte frase em um filme: “quando pede-se paciência, seremos colocados em situações para que aumentemos essa paciência ou que a desenvolvamos”. Nada mais que verdade.


Existem momentos em nossas vidas (e não caiam no erro de acreditar que essas situações são pré-determinadas e limitadas -como se tivéssemos recebido fichas para gastar -, ao contrário, ocorrem há todo momento, basta uma melhor introspecção para perceber) que considero como encruzilhadas.


Nelas, todos os caminhos se convergem; todas as linhas se tocam em um ponto central, e são esses momentos que mais exalam tensão. Vejam, nosso caminho é sempre em linha reta, sendo as curvas, apenas uma questão de perspectiva quando olhamos para trás ou nos observam. Desta maneira, as encruzilhadas são justamente esses pontos centrais que permitem a divisão; momentos em que decidimos sair de um caminho para seguir outro em direção diferente.


Contudo, pela nossa própria natureza temporal (no sentido de que nunca ficamos parado, sempre estamos fluindo para algum lugar), nunca nos encontramos dentro desse ponto central, apenas passamos por eles.


Sendo assim, nunca será fácil realizar essa mudança (ao menos inicialmente, depois torna-se natural – Coloco dessa forma, porque, ao realizar que estamos acima de qualquer coisa que ocorra externamente, a transição fica natural), justamente porque carregamos uma gama de condicionamentos, experiências, memorias, emoções, provenientes desse caminho que percorremos. Eis aqui o motivo que me leva a compreender a dificuldade em abandonar todos os vícios que consideramos maléficos (aqui estou falando da visão de si mesmo, melhor dizendo, de você mesmo).


Além dessa tensão fortíssima, entendo que existe um problema ainda maior: subtrair-se desses momentos, ainda que desejando ser diferente, por acreditar que não são necessárias ou que merecemos coisa melhor.


Não quero afirmar aqui, para abaixar a cabeça e fingir que nada está ocorrendo. Ao contrário e bem pelo contrário, quero dizer simplesmente para tomar esses momentos de tensões e utiliza-las como um estimulante de mudança. Conseguimos mudar de caminho, nosso comportamento, justamente porque estamos ACIMA desse comportamento e, consequentemente, as situações que nos levaram a nos comportar dessa maneira (deu para sacar?).


Entendam como uma hierarquia, colocando as experiências no nível mais baixo (Por exemplo, situações estressantes que, para mim, abrange toda nossa vida cotidiana. Não conseguir falar com as pessoas; lidar com certos tipos de situações; entender certos tipos de conceitos etc etc etc etc) e quem você É, no topo da pirâmide.


Observem o conceito de dor, e percebam como é apenas um reflexo de nosso estado de espirito (um reflexo de como estamos naquele momento), nunca a fonte. Ou seja, a dor vem após uma injuria que provocará dor ou prazer e, consequentemente, movimento (chorar, correr, ficar bravo).


No entanto, gravamos esse estado e nos limitamos para sempre agir daquela maneira, independentemente do tempo. Por exemplo, medo de agulha. Por um bom tempo, essa dor (que foi amplificada através de diversos condicionamentos superficiais – alguém falando que vai doer ou qualquer outra maluquice) esteve impregnada na minha persona como algo negativa e depois continuou sendo negativo, mas, como as pessoas achavam graça naquilo, tornou-se algo negativo-positivo.


Hoje em dia, apesar de não ser medo de agulha, estamos nessa mesma situação de considerar algo negativo como negativo-positivo, sendo esse meio termo que incomoda e por vezes enlouquece.


Fugir ou ficar alheio das situações estressantes implica em erro justamente porque (subconscientemente) permanecemos a mesma pessoa, com os mesmos comportamentos que nos levaram a ficar estimulados e deixar-se levar pelo estresse; impedir que todas as situações estressantes não ocorram (todas as proibições partem desse princípio) também não possui a melhor sorte, tendo em vista que demonstra ainda mais fraqueza que a primeira.


Agora pensem nas primeiras perguntas desse texto e em tudo que foi escrito: se todos reagem de forma diferente na mesma situação que te deixa estressado, então a fonte paira sobre a situação ou sobre cada pessoa que em contatado com o fato? Sendo assim, existe uma situação que podemos determinar como estressante?


Sempre estaremos acima do comportamento e, portanto, estamos plenamente aptos em modifica-lo. Mas, isso não acontecerá caso continuemos acreditando que não merecemos passar por isso ou aquilo; fingir que nada está ocorrendo; impedir e gastar uma estupenda força de vontade e disposição para controlar algo que aconteça independentemente de você.


Acredito que sedimentamos comportamentos para evitar que fiquemos experimentando as mesmas coisas dolorosas ou que saibamos onde buscar situações prazerosas, o que é plenamente válido – Para mais, Leiam Spinoza e sua conceptualização sobre os afetos. No entanto, quando falam de evitar situações estressantes, esquecem que o estresse é o produto a falha da pessoa em cultivar a mente e o espirito para permanecer calma em face do estimulo.


A partir do instante que compreendemos as situações que nos deixam estressadas e, consequentemente, nos permitimos passar por elas sem que nosso espirito e mente não sejam afetados, então, posso corroborar com as afirmações modernas de ir buscar aquilo que não te estressa. Mas ai, fica fácil não? Livres de todos os erros baseados na falta de perspectiva, causadas pelo turvamento físico/mental/espiritual do estresse, evitaremos de acreditar que qualquer coisa que seja menos estressante é necessariamente benéfica para nós (Por exemplo, crer que viver em meio a natureza, por si só, vai trazer alguma forma de plenitude, quando, a realidade se mostra exatamente o contrário – Buscar o próprio alimento, passar por diversas dificultades, etc etc etc).


Isso, é ser verdadeiro consigo.


 
 
 

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