Você é seu ambiente.
- Victor Câmara
- 2 de fev. de 2018
- 2 min de leitura

O que você é, não passa de um fruto do ambiente; toda a maneira de pensar, sentir, as inseguranças que possuímos, a maneira de se portar, são determinados diretamente e indiretamente por aquilo que encontra-se ao nosso redor. Somos influenciados e influenciamos outros, sucessivamente, até que retorne para você.
Os Budistas acreditam que cada ser humano é um mundo que constrói-se e alimenta-se de outros mundos, e vice versa. Um fluxo que passa de um para o outro, em um ciclo infinito e, por isso, buscam bloquear essa constante.
Outro exemplo, é o caso da linguagem. Vejam, nós, tecnicamente, não nascemos com uma linguagem, ao contrário, possuímos a capacidade e potencialidade de vir à aprender uma (seja ela qual for – fala, escrita, gesto etc). Então, minha língua será definida pelo meio em que estou inserido, um fruto dessa ou aquela árvore.
É desleal que sejamos afetas na infância por aquilo que vemos, pois não possuímos mecanismo de defesa para evitar que aquilo se aloje em nossa mente. Contudo, isso não exime a nossa responsabilidade dos atos praticados, mas traz à tona os motivos e influências que levaram até aqui.
Mas e os rebeldes que, inseridos da mesma forma que o cidadãos “normais”, não seguem os mesmos parâmetros? Nesse caso, a influência também vem do ambiente, mas, assim como a exceção, revela-se de uma comprovação indireta. Isto é, você acaba por tornar-se o oposto daquilo determinado como correto (porque provocou uma reação diversa), mas, observem, acaba por tomar como parâmetro a normalidade desse ambiente.
Por isso, os conservadores (aparentemente) são tão parecidos entre si e os “liberais” não. Nada daquilo que lhes apresentam é suficiente plausível e, por esse motivo, acaba por rebelar-se ao beber de outras fontes, que também não diferem da fonte inicial.
Assim como no caso da linguagem, nada nos impede de adquirir um novo pensamento e chegar a outra conclusão. Quer dizer, os impedimentos que existem, na maioria das vezes, são abstratos (por exemplo, situação financeira; tempo hábil; conhecimento de que existe outra língua ou pensamento; interesse em aprender), mas nunca objetivos (dano na região do cérebro que cuida da comunicação). Eis a importância de pulverizar nossas opiniões, mesmo que seja através de blogs como este.
Voltando, nossa cultura é sufocante exatamente por isso: dela não se escapa. Acabamos por ser atingidos de uma forma ou de outra, e toda essa constituição do ser que prezamos e enaltecemos, não passa de um fruto cultural. Seja se rebelando contra ela ou aceitando-a.
Também penso que cercar-se de influências positivas ou, em termos filosóficos, os afetos positivos espinosianos, são de extrema importância para fomentar a si. Olhem só! Acabei de complexar algo que viviam dizendo na infância: “Cuidado com as companhias”. A diferença que agora consegui encontrar a explicação plausível para isso.
Por fim, Emil Cioran construiu toda sua obra ao redor dessa constatação, que é inútil tentar lutar para desagarrar-se da massa, sendo que estamos todos na mesma extensão: “compreendi o sem-sentido de todo gesto e de todo esforço” - A gama do Vazio.
Independentemente de todo o esforço em construir e desconstruir ser “inútil” comparado com a História, devemos prosseguir na constituição diária de si, pois, se fizer sentido para o seu mundo, então é totalmente válido. E que sejamos lembrados como “aquele que lutou contra seu tempo” – Nietzsche, Ecce Homo.
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