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Paredes Invisíveis.

  • Victor Câmara
  • 30 de jan. de 2018
  • 2 min de leitura

Deixando a hipocrisia de lado, quem de nós nunca assistiu o programa de experimento humano, onde várias pessoas são colocadas em uma jaula emplumada para a diversão e análise dos psicólogos de plantão?


Yevgeny Zamyatin, na sua obra intitulada “NÓS”, descreve um mundo estritamente lógico, sem sentimentos, nada de obscuro na individualidade do ser humano (esse é o tema que estarei abordando aqui). Tudo é perfeitamente organizado; rotinas; agendas; atribuições; relacionamentos; pensamentos; tudo feito da única maneira (a correta) perfeita. Nesse mundo, não existem vergonhas pois tudo está exposto. Os apartamentos possuem paredes invisíveis que somente se fecham quando os pares pretendem dar mutuo prazer (e mesmo isso precisa ser agendado e permitido).


Estranho? Impraticável? Será? Observem ao seu redor. Não somos nós que entregamos para o público todos nossos anseios, desejos, pensamentos, opiniões? Não somos nós que abrimos as portas de toda a vida privada para escrutínio do outro? Reclamamos da falta de privacidade, mas somos os primeiros a desconfiar daquele que não possui um perfil na mídia.


“Quem não deve, não teme” se modificou para “quem não deve, exibe”. E fazemos isso de forma prazerosa porque também queremos saber dos causos dos outros; precisamos opinar, arguir, concordar. Não é à toa que estamos grudados nas redes sociais em busca desse prazer transcendental.


A experiência social foi expandida de um confinamento para o cotidiano, com nosso aval inconsciente: Cada like, um voto de permanência; cada postagem, uma justificativa e desabafo no confessionário.


Busca-se adaptar o Eu, para melhor agradar o gosto público. Logo, logo vejo nossa sociedade como as florestas de reflorestamento: sem fauna, sem flora, perfeitamente alinhadas, sem vida, aguardando o corte e a vez de tornar-se papel para que outros escrevam as histórias.


Criamos laços virtuais mais fortes do que qualquer outro sentido pessoalmente porque, gradualmente, perdemos o interesse no lado de fora. Temos tudo que precisamos bem aqui, na palma da mão (e não é que essa capinha ficou bonita?).


Possuímos a liberdade de sermos quem quiser, desde que contemos os motivos.


Perdeu-se o limite entre a vida pública e particular. Então, qual o motivo em reclamar das câmeras espalhadas pelas cidades, sob a justificativa de que isso ou aquilo é particular? Não somos nós que sacamos os celulares para filmar uma situação hilária, em detrimento da imagem do outro?


Essa cuba em que vigiamos uns aos outros, é sufocante. Preciso construir minha roupa das bananeiras por ai, antes que o escrutinador-mor verifique minhas vergonhas. Sim! Estou disposto a sair desse paraíso, caso o preço de permanência seja minha privacidade.


Vivemos sobre um grande Big Brother. O mais engraçado é que nós o patrocinamos e continuaremos a patrocinar porque o prazer do milhão e o medo de estar do lado de fora, é muito grande. O nosso milhão valerá toda essa pena por qual passamos.




 
 
 

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