Mais EGO, menos ismo.
- Victor Câmara
- 26 de dez de 2017
- 4 min de leitura

“Conhece-te a ti mesmo e saberás onde encontrar os poços que emanam leite e mel, porque todos nasceram com os meios, basta aprender a utilizá-los.” Essa é a frase que me vêem na cabeça toda vez que paro para repensar no Ego. Acredito que esse valor que viviam incutindo na minha mente não se enquadra nem mesmo como benéfico, visto que é quem nós somos.
Toda essa ideia que viviam incutindo em minha mente de que o Ego é ruim, pesaroso, não passou de uma forma de me ludibriar e fazer com que encarara-se o mundo de uma forma infantil e despreparada ou, pior, passar por toda esse existência se enganando.
O EGO é composto de pontos que juntos transformam-se em linhas e estas vão (re) compondo a identidade e resvala em tudo que te rodeia.
Nossas relações humanas desenrolam-se da mesma maneira que o Sol, pois o interesse “dele” ( se é que posso filosofar dessa maneira) está em simplesmente brilhar e dar. Não por um interesse infantil e imaturo de ter todas as atenções voltadas para si; de receber um reconhecimento para efetivar sua atitude, mas, ao contrário, de sorver-se de sua própria luz e deleitar-se com o resultado. O Sol, por excesso, gera vida e calor; queimaduras e câncer; bronzeados e beleza; desconforto e incomodo, mas todos esses atributos são reações individuais, sentidas por nós, frutos do contato com algo tão imensamente poderoso, dadivoso e igualmente distante.
O universo não conspira ao nosso favor, muito menos os ventos alísios convergem para melhor tocar esse ou aquele barquinho. Cabe a Nós, o seu e o meu Ego, buscar a melhor forma de adaptar-se as condições alavancadas ao longo de nosso percurso; e somente o força do Ego que é capaz de erguer-se.
“Adote aquilo que é útil, rejeite aquilo que é inútil, e adicione seu toque especial” – Bruce Lee
Devemos buscar sim o que é melhor para nós, o Ego, pois de que forma iremos auxiliar o próximo? Não conhecemos nossas limitações, nossos gostos porque vivemos á sombra de pessoas mesquinhas e egoístas que consideram, por estar no topo de uma “hierarquia” ilusória, que a força de vocês é a força deles. Pior, não experimentamos por medo de ser julgado por esse tribunal invisível do conformismo.
VIVAMOS NOSSO EGO! O conhecimento vem através da vivência; essa forma intensa de entregar, sem estar menos pobre por isso. Essa forma dadivosa, só é alcançada através da experimentação de todos os afetos que nos cercam: a observação, experimentação, apreciação e entrega. Um ciclo para que consigamos partir da espécie para à espécie superior de si.
De fonte em fonte, como nômades saqueadores, prosseguimos. Entramos na Vida prontos para usufruir e crescer através de trancos e barrancos, tendo como arauto nosso Espírito para lembrarmo-nos de onde e como chegamos até aqui, e nossa Razão para melhor adequar-se ao meio. Digo um saqueador, pois usamos e gastamos ali e aqui, melhoramos ou destruímos, não acumulamos como o ladrão, e criamos nossos valores para servir como palanque para o próximo salto.
A diferença, é que nosso salto será sempre para o Alto. Como um balão, para que alcance novas alturas, corta os contrapesos dos valores tacanhos, deixando para os que estão querendo subir! Isso não significa que ficará incompleto, ao contrário, essa ato resultará em ares nunca antes alcançados.
“Há mil sendas que nunca foram calçadas, mil fontes de saúde e mil terras ocultas na vida. Ainda se não descobriram nem esgotaram os homens nem a terra dos homens” – Nietzsche, Assim Falou Zaratustra.
Este EGO é louvável! Agora, esse suposto Ego a qual chamo de egoísmo, que olha para tudo o que reluz, resplandece, ilumina, com desejo de tomar e acumular; que nunca oferece, sempre na espreita da mesa com uma máscara é o Ego (ismo) dos doentes, pobres, famélicos. Uma degeneração que estupora e assombra os ouvidos dizendo: TUDO PARA MIM.
Portanto, o EGO também está acima do louvor e da censura. Não se toma uma atitude pensando que isso irá me valorizar na sociedade, mas para agradar a própria consciência. Uma atitude pensada e colocada em prática por si mesmo, e não porque alguém mandou ou impôs que era a correta. No meu momento e quando eu, meu Ego, quiser.
Zaratustra dormia na floresta quando uma serpente fincou suas presas, depositando veneno em seu pescoço. Admirado, Zaratustra fala: Recolha seu veneno, pois não és rica o suficiente para entregá-lo de presente.
Certas atitudes altruístas e filantrópicas são como a cobra, não passa de um investimento que a pessoa faz, por não conseguir enrolá-la com seu corpo viscoso, visando ser retribuída lá na frente. Reparem em como certos indivíduos se portam quando seus planos ou ações altruístas não se desenvolvem da maneira estabelecida. Isto é, a pessoa ajudada não retribuiu no momento certo, como se existisse uma obrigação de quem recebe. Revolta-se com grande fervor. Percebam que disse ajudar, não agradecer.
Quanta verdade emana a partir do momento em que admitimos que todas nossas ações foram para agradar nosso Ego, os erros e acertos vieram depois da experiência. Podemos colocar a desculpa nos deuses, na sociedade, no mercado, darmos a roupagem que for, mas tudo se volta para o centro, você. Até mesmo a maldade que por vezes realizamos serve para entendermos o que guardamos aqui dentro, nas celas escuras e trancafiadas.
Mas, existe outra maneira de modificar-se e lidar consigo, a não ser conhecendo o que esconde nos profundos poços do EGO? Amadurecer também implica em conhecer suas obscuridades.
Destruir o EGO, como diz por ai, é aniquilar quem você é. Viver sobre as interpretações de terceiros; sendo regida por egoístas vampirescos que sugam toda sua potencialidade. Minha retribuição é somente crescer, cada vez mais, e dar vazão ao meu EGO e suas infinitas possibilidades. Reverberar minha loucura, a minha excentricidade.
Mais EGO, menos ismo.
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