Tribunal Conformista no Processo Criminográfico do Escandaloso.
- Victor Câmara
- 20 de dez. de 2017
- 5 min de leitura

Recentemente houve um grande coro inquisidor sobre a postagem em que o guitarrista, compositor da banda SOAD, Daron Malakian, disse ter ficado triste, na época, com o anúncio da morte do Charles Manson. Claro que isso gerou grande alarde, sendo até mesmo considerado
um Escândalo.
“Escândalo” do verbo pretérito do futuro presente “Julgar”. Isto é, um acontecimento injustificável (pelos meios que impomos), inaceitável (conformismo), que contradiz a lógica e que no entanto real*. Considero o escândalo mais real do que essa hipocrisia tacanha, e todo esse venenosamento moral, pois vai de encontro com algum limite falsamente fixado.
É escandaloso quando alguém sai das medidas e padrões sobrepostos como verdadeiros, e sustenta-se em suas próprias leis e na sua própria moral, construída através da experimentação. Hoje, quem ousar adentra no campo do pensamento próprio ou pesquisar outras facetas da realidade, está fadado ao apedrejamento silencioso; de olhares flamejantes inquisitórios e do afastamento gelidamente social.
TUDO POSSUI VALOR e não é porque um dos frutos fica podre que a árvore merece ser derrubada. Negar o talento ou valor de algum feito, comparando com um outro, é o verdadeiro escândalo. Eis um dos motivos dessa geração me irritar tanto, pois não consegue individualizar absolutamente nada, o espirito do processo inquisitorial permanece ao longo dos séculos.
Lembro de uma vez, há muito tempo, onde me reuni com minha mãe e seus amigos para comer um lanche, no jaz falecido Saldanha. Nesse encontro, não lembro como, começaram a falar sobre Hitler, e minha mãe disse que seu filho (eu) não o considerava tão monstruoso como dizem e que, em certa medida, foi até preciso no que pretendeu implantar (reerguer à Alemanha tirando –a do sufoco implementado pelos Aliados, e inflamando o combate ao Judeus - o que já ocorria pela Europa inteira- e a todos aqueles que venceram o povo alemão). Preciso escrever o que se sucedeu? Simplesmente pairou aquele famoso silencio sufocante, até que o mais descolado da mesa transfigurou sua ignorância em uma piada, sentenciando-me ao sepulcro. Dalé,
Dalé, Tribunal.
“Tribunal” uma abstração social constituída através de opiniões exaltadas moralmente, e legitimante do emprego da força por meios processuais. Não importa se seremos inocentes ou não, o estigma do Tribunal o acompanhará por toda sua vida; as chagas não serão limpas no Rio Jordão, pois nossa aparente inocência revela tão somente a incompetência dos meios utilizados, a falta de força do acusador. “Viu só? Se foi acusado, é porque aí tem coisa. Nós que ainda não enxergamos”.
Esse Tribunal não é constituído de paredes ou confinado à um lugar especifico, ele está em espirito em cada um nessa dita sociedade, pois, no fundo, fomos ensinado que nossas falhas são erros de conduta do caminho estipulado, e nos castigamos por isso. Ao passo que essa “falhas” são os impulsos que fazem ir além; as extravagâncias que fazem com que cada um seja original.
Então porque confiar que o próximo nos tratará diferente, sendo que nós próprios nos castigamos? Erguemos as barricadas uns contra os outros! Existe um espirito de tribunal e julgamento permeando nossas entranhas sem que tenhamos consciência disso; esse espirito retira suas forças ao encharcasse desse conformismo e escândalos, desembocando
no Processo.
“Processo” meio pela qual leva-se ao indivíduo em criar o próprio erro, entregando ao carrasco ou legitima toda uma sentença pré-determinada. Milan Kundera escreveu: “o espirito do processo não reconhece nenhuma prescrição; o passado distante é tão vivo quanto um acontecimento de hoje; e, mesmo depois de morto, você não escapará: há espiões no cemitério.”
Realmente não importa qual tenha sido a real intenção do autor de determinado texto ou do porquê um artista fez o que fez, nossa bibliografia pertence ao outros para acusarem ou exaltarem conforme a maré, os ditames, do Tribunal.
Um exemplo disso é o fato de lembrarem de Nietzsche tanto pela frase “Deus está Morto” como pela medíocre ligação com o nazismo. Seus opositores, não pararam para pensar que a Obra deixada por ele tem como característica fundamental a experimentação: pensar sobre o já instituído de uma forma diferente. Até fizeram um filme para combater essa frase, mas, se quer, exploraram o discurso de Nietzsche no filme. Ficando somente naquele clichê de um filosofo que perdeu tudo e revolta-se contra Deus, tornando-se Ateu... “ pff.
A sua escrita como um grito angustiante de alguém preso nas garras desse Tribunal Invisível, conseguiu abrir brechas nos muros, demonstrando novas possibilidades para o pensamento, onde, até então, nenhum filosofo ousou aprofundar-se.
Porém, o que essa geração teima em não perceber é como suas vozes modificam-se ao longo dos anos, não por uma mudança interna através de uma experiência, mas para melhor adequar-se com esse espirito desprezível e insosso de julgar imediatamente, sem parar, a todos sem compreender ou confinar a pessoa, toda sua vida – composta de valores, experiências, aprendizado, momentos de genialidade escondida – em um bloco ou
uma Criminografia.
“Criminografia” ato ou efeito de generalizar e planificar a história de outrem. Reduzir toda a vida do acusado, já condenado, ao seu crime e esquecer de todo o resto ou toma-lo apenas como pressupostos, melhor dizendo, causas que o levaram a tal ponto. Esse Tribunal a qual lhe empregamos força diariamente, através de nossos atos, diz respeito ao julgamento como um todo da personalidade do acusado, não aquele “erro” que desencadeou todo o processo. Todas as cartas são sobrepostas como se fossem de mesmo valor, algo que foge da lógica, mas ninguém questiona.
E, pior, essa Criminografia estende-se para aqueles que fizeram parte de sua constituição ou até que minimamente tenha tido contato contigo. Eis o motivo da família prender o desgarrado, com medo não dele se machucar, mas que sua conduta “antiética”, “imoral”, “absurda”, resvale nos mantos alvos da moralidade de seus entes.
É claro que o guitarrista Daron não concordava com os assassinatos, OBVIO! Tanto que ele próprio discursa isso: “Meu interesse está na forma como ele articula seus pensamentos e seus pontos de vista sobre a sociedade, não em seus assassinatos”. Entretanto, pela amor! Leiam ao menos a letra da música “SICK CITY” do cara; notem que serviu de inspiração para escrever um poderoso álbum com um música fantástica “Toxicity”; reparem a forma com que conseguiu separar o joio do trigo, sem que se deixasse levar através
do Conformismo.
“Conformismo” estado do indivíduo que deseja permanecer imutável. Essa corrente do contra senso logico da vida (mudança) tomou conta de nosso cotidiano e o que parece mudar, nada mais é do que uma adaptação ao novo Tribunal que se impôs. Uma forma de mudança para permanecer como cônjuge fiel aos ídolos de barro.
No fundo, “essa mudança não é nem sua criação, nem sua invenção, nem capricho, nem surpresa, nem reflexão, nem loucura (...). No final das contas, são sempre os mesmos: sempre dentro da verdade, pensando sempre aquilo que, em seu meio, é preciso pensar; mudam não para se aproximar de sua essência mas para se misturar aos outros; a mudança lhes permite permanecer imutáveis.” *
Resta a nós, seres que ainda pensam, garimpar os erros e acertos para melhor conhecer a si e nossa realidade. Mesmo que isso implique em explorar os dito esgotos marginais internos e dos outros; mesmo que tenhamos que enfrentar os Tribunais Invisíveis que manifesta-se nas pessoas.
*Milan Kundera
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