Um bode.
- Victor Câmara
- 4 de dez. de 2017
- 4 min de leitura

Que deus me perdoe, e ele que arranje outro para perdoa-lo. Mas, já fiquei muito tempo de bico calado. Escrevo para não parecer um abestado que não consegue emoldurar os fatos. Qual? Que estou de saco empanturrado.
Empanturrado de filósofos da terra com suas crendices de que uma erva curará os males dessa sociedade hipócrita e maléfica (e, pior, que somos ensinados a amar) em que somos inseridos. Para mim, é somente uma forma de entorpecer os sentidos e deixar-se levar como um bom budista exausto de lutar; uma forma bela e poética de descansar. Saturado de falsos demográficos e cientificidades duplicites, no intuito de enganar e fortificar o discurso de autoridade: Eu não quero e ponto, aceite quieto. Um argumento com a qual acostumamos a ouvir quando criança, aprimorado na escola e solidificado no trabalho. Abodiado de tantas bem feitorias que, assim como disse acima, escondem as intenções e as verdades.
Qual? Me deixem em paz! Porém, como certa vez li, para querer a paz, esteja preparado para guerra. E depois me dizem que estamos civilizados...
Tudo que vem de resto como benéfico ou não, é um mero embuste. O que te importa o que faço? “Importa que se não posso ser livre, tu também não pode. Ninguém aqui vai para o céu, caso eu não vá também. Prefiro ver todos no inferno do que vê-los alcançar a graça que de mim mesmo, não serei capaz de alcançar.”
Acordo tácito onde pode-se obter tudo, menos a liberdade? Não existe liberdade com proibição, mesmo que singela. Ou é plena ou você está se referindo a qualquer outra coisa, menos nela. Tudo isso à troca de quê? Segurança? Uma falsa ideológica precária e cancerígena de que minha “liberdade acaba quando inicia-se o do próximo”. AO PASSO QUE MINHA LIBERDADE SÓ PODERÁ SER ILIMITADA CASO SEJA IGUALMENTE DISPONIBILIZADA PARA O PRÓXIMO!
Em que ponto chegamos sr. motorista? Que tememos a liberdade de nossos vizinhos por ser iludido de que essa violência generalizada não é fruto desse mesmo Estado, erguido sobre a soma da negação de todas as liberdades de seus membros; onde incubaram esse vírus de que somos animais descontrolados que não conseguem conviver sem um cabresto ao lado ou um malfeitor iluminado!
Erguem-se castelos (in)sociais sobre um contrato tácito, isto é, sem palavras, raciocínio, pensamento e vontade:simplesmente foi. Mas, querem me levar a crer de que qualquer resultado benéfico proveniente disso, justifica a porra do sistema! E ainda me julgo paranoico; castigo-me como se fosse um mal menino, quando elevo-me ou suspiro por um breve momento, conseguindo padronizar muito melhor esse mundo de flores mortas arranjadas em um belo arranjo...
Isso está proibido para o seu bem, mas, permita-me te enlouquecer e adoecer com aquilo que dito e ratifico.
Enjoe em silêncio! E não ouse dar vazão ao seu aborrecimento.
Não fuja do páreo, pois, desse jeito, quem irá nos entreter? Seu papel é ter um fardo pesado, calejante, sufocante em outras palavras, assim como eu o tenho.
Não questione, e deixe-se pescar. Isso faz parte do grande plano para seu "bem-estar" acomodado nesse curral, dito como normal.
Que páreo é esse, onde até mesmo os próprios apostadores são articulados, em um belíssimo sistema panóptico foucaulistica?
Foda-se! com muita polidez.
Que fardo é esse que convenientemente está colocado sobre um Deus, qualquer que seja?
Foda-se! com toda minha educação.
Há muito tempo cansei de ser o bobo da sua corte. E, por um breve momento, serei a junção de todas minhas totalidades.
Não dizem que é no deserto que vão aqueles que buscam se reencontrar, em entrar em contato com a realidade? Então, assim como na meditação, nos livros, na contemplação terrestre e sideral, nas vibrações MUSICAIS, a maconha também é meu lugar.
Abaixo transcrevo certas partes do texto “Um bode” do Charles Bukowiski em relação à proibição dos meios que te elevam para um realidade, dita como imaginária:
“existem algumas razões fundamentais pra se banir o lsd, o dmt e o stp – uma pessoa pode ficar desequilibrada pra sempre –, mas o mesmo se aplica pra quem colhe beterrabas, aperta parafusos pra General Motors, lava pratos ou ensina inglês em universidades locais. se se fosse proibir tudo o que provoca loucura, a estrutura social em peso ruiria por terra – o casamento, a guerra, o serviço de transportes coletivos, os matadouros, a apicultura, a cirurgia, o que se queira incluir, qualquer coisa pode levar o homem à loucura, pois a sociedade está estruturada sobre estacas falsas.”
“(...)uma viagem de lsd mostra coisas que fogem a todas as regras. que não constam dos livros de aula e contra as quais não adianta protestar junto a vereadores municipais. a erva só torna a sociedade atual mais suportável; o lsd, em si, já é outra sociedade. se você segue uma diretriz social, provavelmente há de classificar o lsd como “droga alucinógena”, o que é uma maneira simplista de tirar o corpo fora e liquidar o assunto. mas a definição de alucinação varia segundo o ângulo em que você se coloca. tudo o que acontece com a gente naquela hora está ali, é, de fato, a realidade – pode ser filme, sonho, relação sexual, crime, estar sendo assassinado ou tomando sorvete. só as mentiras são impostas mais tarde; o que acontece, acontece mesmo. alucinação é apenas uma palavra no dicionário, uma muleta social.”
“(...) ninguém deve culpá-lo por enxergar agora e nem por enlouquecer só porque as forças didáticas e espirituais da sociedade não se preocuparam em ensinar-lhe que a pesquisa é um campo infinito e que todos nós precisamos conformar-nos em ser uns bolhas reduzidos ao abecedário e mais nada. não é o lsd que provoca o bode – foi a tua mãe, o teu presidente, a vizinha do lado, o sorveteiro de mãos sujas, um curso de álgebra e espanhol simultâneos, o fedor de uma latrina em 1926, um sujeito narigudo quando te disseram que todo narigudo é horrendo; trabalhar numa fábrica dez anos e ser despedido por um atraso de cinco minutos, a megera que te ensinou a História da América no 6º ano, o teu cachorro atropelado sem que ninguém depois te explicasse a coisa direito, uma lista de 30 páginas de extensão e 3 quilômetros de altura."
“um bode? o país todo, o mundo inteiro entrou num bode, amizade. mas você vai em cana se engolir um tablete.
continuo com a cerveja porque, no fundo, aos 47 anos, já tem uma porção de ganchos em cima de mim. seria um panaca de merda se pensasse que consegui escapar a todas as redes lançadas por esse pessoal.”
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