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Provocações de uma mente gritante – Nabucodonosor, o gatilho salvador #4

  • Victor Câmara
  • 28 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Lendo alguns trechos dos escritos de Bakunin, me deparei com sua teorização dos aspectos positivos e negativos da sociedade. Neles, e assim faço coro também, é expresso que o indivíduo humano (no aspecto geral) é essencialmente social; nasce e cresce e “desde as entranhas da mãe, já está determinado e particularizado por uma multiplicidade de causas e ações”.


Faça-se essa pergunta: Quem lhe deu o primeiro conteúdo? Acredito que possuímos as faculdades, possibilidades por assim dizer, de sentir-pensar-falar-querer-criar. Porém, tudo isso está de forma suspensa, sem conteúdo, e acredito que a sociedade, nossa cultura, que fornece os padrões iniciais, uma troca de influências por assim dizer (família, religião, os amigos do bairro, escola etc).


Desse jeito, é nítido que o peso que a sociedade exerce no indivíduo é gigantesca, pois precisa lidar com séculos e séculos de heranças passadas de um para o outro, com leves modificações ao longo do percurso.


E, no filme Matrix, essa fórmula foi habilmente abordada, no tocante que todos os indivíduos dentro dos circuitos da máquina, não se dão conta que estão presos, pela sétima vez. Uma programação tão perfeita porque conseguiu captar e explorar uma necessidade humana de liberdade, resumida em uma fórmula não tão secreta: Ilusão de Livre Arbítrio, de escolhas.


Mas, voltando ao assunto, essa pressão cultura exercida sobre nós não possui somente um aspecto banal, vulgar, que determina que sigamos uma rotina. Ao contrário, ela também faz com que aqueles que desenvolvem um senso crítico além do estabelecido, sejam expelidos com grande força.


Entretanto, imaginem se não houvesse um indivíduo anterior com toda sua tripulação (Morpheus e Nabucodonosor)? De nada valeria o Neo possuir toda a possibilidade intrínseca, as faculdades (que de fato se concretizou) de purgar todo o sistema sem que houvesse toda uma organização e estimulação por parte do Morpheus. Isto é, “de início, ele não pode ter nem está consciência, nem está liberdade; ele nasce um animal feroz e escravo, e só se humaniza e emancipa progressivamente no seio de uma sociedade, que é necessariamente anterior ao nascimento de seu pensamento, da sua palavra e da sua vontade; e só pode fazer através dos esforços coletivos de todos os membros passados e presentes, que é a base e o ponto de partida natural de sua nova existência humana.” – O conceito de liberdade, Bakunin.


Talvez, a escolha do nome para o personagem fictício tenha sido magistral porque significa “moldador; a forma” que apareceu no mundo irreal (Matrix), dos sonhos e o incentivou à sair para realidade, buscando suas idealizações. E, Nabucodonosor expressa um pedido de proteção para o primogênito, escolhido.


A responsabilidade daqueles com olhos é absurdamente maior do que os “prometidos”; a carga e peso são de toneladas, aliadas com o cansaço e escoriações causadas pela própria pessoa que pretende salvar, visto que uma salvação também depende do indivíduo escravo revoltar-se contra uma parte de si, os resquícios da influência social que o aprisiona. Mas, assim como alguém dedicou-se por nós, deve-se realizar o mesmo feito: Seja o gatilho.


Acredito que o papel daqueles que enxergam seja o de guiar outros, não para seguir seu passos; não como obrigação, mas por o assim conceber, amar, desejar. Portanto, não é preciso que todos sejamos cegos para perceber que a imposição, mesmo sútil, vai contra toda a definição de liberdade humana; a modificação daquilo tido como ruim (Estado, por exemplo, necessidade temporária) deverá surgir de forma gradual, como um sussurro que ganha força em cada individuo.


Por fim, “Se podes olhar, . Se podes ver, repara”. – Ensaio sobre a cegueira, José Saramago.


VEDERE, “enxergar”

REPARARE, "começar outra vez, preparar novamente"

 
 
 

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