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Alarme da Colina Silenciosa - Uma sociedade em crise (?)

  • Victor Câmara
  • 27 de nov de 2017
  • 3 min de leitura

“Crise”, palavra que provoca alarde e desespero. “Crise” da sociedade e também do sossego. “Crise para o cansaço”; “Crise para o controle”; “Crise para manutenção do já estruturado”.


Essa palavra vem em nosso encalço há décadas, nasci em uma época que estavam se recuperando de uma crise e caminhando para uma nova; sempre um ciclo incansável, fruto de uma provocação calculada e estratégica. Hoje, criou-se um novo método de controle e submissão, com novos PhD no assunto: Gestão da Crise.


Acredito que minhas idas e vindas no trem, me levaram a compreender diversos conceitos e este é possível através do método operacional de vendas dos marreteiros.


Resumidamente, operam assim:


Chegam em duplas e começam a anunciar a famosa promoção 2 por 1 sem muito alarde, nada fora do comum e, por isso, poucas são as vendas que fazem. Então, o marreteiro para perto de seu cúmplice para conversar sobre como a fiscalização nos trens está cada dia mais forte; quantos seguranças foram contratados na “mega” operação dos guardas; lança um comentário de que vários de seus amigos perderam mercadorias ultimamente; inicia diversos movimentos com a cabeça em direção ao vagão seguinte, com expressões de desespero, gesticulando e falando bem alto, seguidos de seu comparsa: “Puuts. Olha lá! Olha lá! Pegaram o menino. Mais um nessa bosta!”.


Agora o GRAN FINALE, o momento que anuncia: “Olha só, pessoal. Para não perder minha mercadoria para os guardas, vo fazer o seguinte – Quem tiver 1 real vai levar! Só Chamar que entrego porque prefiro vender ‘barato’ do que ‘perder’ para os guarda. Última caixa!”


Não preciso nem comentar de que as pessoas automaticamente sacam a carteira para fora e compram aqueles produtos como se fosse uma grande oportunidade, imperdível ou que estarão ajudando o pobre rapaz trabalhador. Claro, não nego que provou-se ser um gênio das vendas ou quem quer que tenha aplicado essa técnica inicialmente, porém, também provou, nitidamente, como somos manipulados ao sentir que algo desesperador está acontecendo.


Ninguém percebeu que não existia nenhuma guarda no outro vagão pegando a mercadoria de outro marreteiro; igualmente não notaram que a “promoção” somente ganhou sentido, a partir do momento que o desespero tomou conta, um frenesi de massas.


Introduzir a crise no cotidiano de forma pensada estrategicamente, permite introduzir remédios (venenos) amargos para reestruturar tudo aquilo que não adequa-se. A crise turva nossa visão, como uma neblina, aniquilando o pensamento e criticidade pessoal; a subjetividade torna-se, obrigatoriamente, em objetividade imposta.


Imposição de recriar-se assiduamente, incessantemente como forma de conseguir sobreviver a lá teoria da evolução darwinista ou nunca leram o seguinte parágrafo: “(crise) criadora de oportunidades, de inovação, de empreendedores, em que só os melhores, os mais motivados, os mais competitivos sobreviverão “. Antes, uma crise era impensável e terrível. Hoje, símbolo de uma dupla verdade de prosperidade-lucratividade.


Esses gestores de crise provocam uma insegurança existencial crónica, onde tal prática “contra insurrecional é desestabilizar para estabilizar, que consiste em suscitar voluntariamente, pelas autoridades, o caos a fim de tornar a ordem mais desejável do que a revolução. Da microgestão à gestão de países inteiros, manter a população numa espécie de estado de choque permanente, siderada, desamparada, a partir do qual se faz de cada um e de todos praticamente aquilo que se quiser’’ - Comitê Invisível, Crise e Insurreição.


Crise na economia, mas lojas vivem cheias; grandes grupos econômicos se aproveitam para englobar empresários e comprar o maquinário por míseros reais ou, esses empresários englobados, se utilizam da crise para dividir por dois o vencimento dos funcionários, argumentando que se poderia muito bem nunca mais lhes pagar nada de nada, como se estivessem fazendo um favor.


A “crise” servindo de desculpa para tomar medidas ridículas que beneficiam tão somente a classe reservada e cancerígena denominada banqueiros e outros mais abastados. Ou, é ingenuidade pensar e constatar que o grande fluxo de dinheiro de FGTS, autorizado pelo Governo, foi para pagar esses créditos abstratos e absurdos, aumentando e muito o lucro bancário; investidores que lucram de forma estratosférica com crises e despencamentos da bolsa, em detrimento das economias de países e sua população. Aumentos sorrateiros nos preços sobre a desculpa de não precisar de reformas, mas, após um tempo, jogar goela a baixo tais reformas com o codinome: “é a crise, né?”


Assim como no filme “Silent Hill”, a sirene, com seu som aterrorizador, foi uma benção para aqueles que estavam no poder; a melhor maneira de colocar em prática todos os caprichos contra aqueles que não se adequavam, jogando na fogueira como uma bela inquisição.


Entretanto, preciso estimar essa estratégia genial, assim como do marreteiro, pois, ela não vingariam caso não fossemos participantes ativos desse sistema, o que me leva a crer que será necessário que enfrentemos nossa única crise interna, deixar aflorar, para que expurguemos essas falsas idealizações de crise e retornemos para nossas casa. Claro, não espere que retornará para o antigo, pois, da mesma forma que o filme, nosso lar estará modificado.


Crise? Pff...

merry Crisis and a happy new Fear

 
 
 

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