Reme, Forrest, reme!
- Victor Câmara
- 16 de nov. de 2017
- 3 min de leitura

Simplesmente somos jogados ao mundo sem qualquer cobertor ou manual de instruções; postos no caiaque e “vamu sinborá!” em movimentos à mil quilômetros por hora com curvas e descidas cada vez mais íngremes. À primeira vista pode ser aterrorizador, perturbador, insensato alguém escolher esse destino para ti, mas, aqui está o único ponto de autoridade que concordo, você não tem escolha! Até que tenha forças próprias e adquira consciência de si mesmo, nada pode fazer para extirpar a sua própria existência. Isto é, vai encostar a bundinha na água gelada sim e ‘segura o choro’ ou não.
No filme “into the wild”, existe uma cena espetacular (talvez a mais de todas), onde o “Supertramp” resolve navegar através do Rio colorado, sem capacete, botas, coletes salva vidas. Sabe por quê? De nada adiantaria! Ali, no meio da tormenta, quando tudo ficou para trás, percebe-se que só existe você, seu espirito, sua vontade, sua força e o Rio; todos aqueles acessórios revelam sua natureza de que somente são isso: acessórios, ilusões da mente projetadas para parecer que está seguro. Toda a Moral, Lei, Ética, Cultura, Família, Justiça Humana, se diluem ao encarar essa imanência fluvial.
Nossos olhos buscam desesperadamente algum ponto onde possamos fixar-se para um respiro; nos apoiar naqueles acessórios mas, acreditem, as piores correnteza são aquelas próximas das rochas, pois farão com que se espatife contra elas. “Água tanto bate até que fura” se aplica aqui com um multiplicador, de que quando furar (e isso vai acontecer, não tenho dúvida) essa nossa segurança, não saberemos mais nadar.
Quem te prometeu conforto? Não me refiro ao conforto material, por exemplo, uma cabana com lareira e chá quente. Digo, conforto interno, mental ou você considera que tuas alegrias certezas já foram programadas e determinadas? Que não precisará buscá-las através da experimentação? Onde está a dúvida, o questionamento? os encontros e desencontros, seus afetos e desafetos? O que ama e o que odeia?
Claro, possuímos escolhas: Pode-se escolher entre nadar contra a correnteza com todas suas forças; tentar chegar na margem desse rio, em uma luta incessante; deixar-se levar por suas correntezas sinuosas e íngremes aleatoriamente ou, o que considero o mais poético de todos, tornar-se um com o rio, escolhendo por quais correntezas deixar-se levar.
Indo mais além, ridicularize-se! Se destrone no riso de seus corte, nos ralados de seus joelhos, do cabelo esvoaçado, dentes quebrados. Olhe para suas feridas e lembre-se de que o que a causou ficou para trás e hoje faz parte de sua constituição somente a força que prevaleceu. Nós evoluímos...
Regozija-se, Deleite-se em si mesmo, com todas suas dores! Ninguém deu permissão para viver e não será agora que irão te proibir de descer ou estabelecer diretrizes nesse Rio.
“O desejo de ser liderado eternamente é a própria traição do Eu” então façamos como “Supertramp”: Simplesmente nade! Nade sem desejar ficcionar o que lhe espera na curva. Nade e escolha as correntezas que sobressaltam aos seus olhos. Entregue-se de forma consciente, sem acreditar em fantasmas, À este Rio colorado. Nade por entre as flutuações céticas da sapiência sem deixar de navegar por entre karmas da senciência.
Ao final do curso, quando o Rio estiver próximo da sua foz, seremos abarcados por um momento de paz, realmente nos conectaremos de forma impar com o Todo, como merecedores do Eterno Descanso do Ser, o ponto final de cada um.
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