Reflexões neumáticas.
- Victor Câmara
- 8 de nov. de 2017
- 3 min de leitura

Há um muito tempo não descia das colinas gélidas para os quentes e aconchegantes campos. Há muito tempo mesmo! E, enquanto estava em meio as vastas planícies umbilicais, refleti de como é interessante e proveitoso aventurar-se em meio essas planícies de concreto; o quanto é espetacular descobrir ângulos diferenciados.
Existe um termo para isso: “NEUMA” que basicamente significa uma ideia pré concebida que explode, isto é, deixa de ser como era. Por exemplo, como seria a descrição de uma gelatina sem que nunca tivéssemos contato com ela? A primeira vista seria sólida, mas, ao toca-la, perceberíamos de que é extremamente maleável, quiçá frágil, e esta mudança abrupta, essa choque, significa neuma: O QUE FOI NÃO É MAIS.
Bom, gosto de obter novas neumas, mas, para isso, faz-se estritamente necessário deixar às montanhas! Enfim, a que obtive recentemente veio como pequenos atos que, no final, revelaram-se uma avalanche. Tudo associado aos relacionamentos.
Certa vez, estava eu, a girassol e nossa amiga em comum, sentados naqueles bancos de madeira dos postos de gasolina, tomando umas e jogando conversa fora. Até que, chegamos nesse papo de relacionamentos e, nossa amiga, disse que se pudesse optar certamente escolheria não ter mais sentimentos, vivendo como psicopatas.
Claro, um choque à princípio, pois como alguém escolheria viver assim? Mas, não é exatamente nisso que estamos nos transformando? Os “relacionamentos” que tive (escrevo entre aspas, pois um relacionamento que considero ideal, está longe de ser meramente um contato físico ou troca de meia dúzia de palavras para parecer interessado) foram baseados e regidos sobre a perspectiva do MERCADO. Noutros termos, eu era o sujeito e o outro a mercadoria, ou o meio se preferir, para meus desejos lascivos. Um prazer tão momentâneo que muitas das vezes acompanhados de uma ressaca moral maior e prolongados por dias à fio.
Jack Kerouac escreveu o seguinte, isso em 1957: “garotos e garotas têm curtido momentos realmente tristes quando estão juntos; a artificialidade os força a se submeterem imediatamente ao sexo, sem os devidos diálogos preliminares. Não digo de um galanteio –mas sim um profundo dialogo de almas, porque a vida é sagrada e cada momento precioso.”
Concordo e escrevo que isso é tão atual como naquela época. E acrescento somente um ponto crucial, indispensável conhecer os seus próprios interesses e agir conforme essa descobertas. Gostei muito de uma frase que rolou em mais uma dessas idas e vindas recentes ao vale: “Descobri que amei quando minha verdade bateu com a verdade dela”. Duas almas, sem medo, dotadas de inocência, no sentido nietzschiano, trocaram olhares chamuscados e amaram-se.
Isso não precisa necessariamente ocorrer para um relacionamento conjugal, mas expande-se para todo e qualquer tipo de relacionamento pessoal (amigos, família etc), e ainda com todo o resto que te cerca. Como citei acima, esse dia também foi interessante, pois as pessoas estavam na vibe de divertir-se e conversar sem aquela afã de conquistar o outro ou se sobrepor aos demais através de um ego inflado.
PESSOAS ABRINDO SUAS VERDADES, COMPARTILHANDO-AS E ELEVANDO-SE. Hoje ainda possuo esse princípio de mercado, mas ao invés de sorrisos amarelos, “de amor, dinheiro, fé, fama, equidade,” troco verdades, assim como tazos na escola. Meu interesse está na verdade, não importa qual e de quem seja.
Hoje, ainda mais que ontem, consigo separar o joio do trigo, pois em um mundo onde a verdade é subversiva, inevitável conservar-se e aprimorar as habilidades de defesa. Por sorte, possuímos um radar de verdades que precisamos começar a ouvir mais.
Fora isso, relacionamentos deveriam voltar ao que eram, simples. Observem a complexidade que uma mentira pode alcançar em relação a verdade. Podemos, e concordo, que somos quem desejamos ser, mas quem é você em sua essência? O que você esconde embaixo de toda as complexidades, ideias impostas, discursos programados, anseios e expectativas? “Oque você faz quando não tem ninguém olhando?”
Obviamente, que descobrir que nós, melhor dizendo, nossa verdade não condiz ou não possui reflexo lá fora, faz com que desejamos extirpar esse sentimento. Mas, é exatamente isso que faz com que sintamos emoções e ligações com o nosso envolto. Os cachorrinhos, um entardecer, aquela música que penetra nos ossos e arrepia o corpo.
Viver apenas pela razão é abortar e diminuir essa experiência lunática, epilética, orgástica chamada Vida!
Por fim, todos somos tazos raros que, por algum motivo, tem medo de brilhar. Pois bem, então não queiram trocar comigo! Quero bater tazos com aqueles brilhantes e ensolarados.
Comments