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Observatório Ambulante.

  • Victor Câmara
  • 23 de out. de 2017
  • 2 min de leitura

Saul Leiter

Às vezes atrasado, mas muita das vezes acontece de estar adiantado,

Pois é difícil manter-se na rotina quando mora-se afastado desse grande conglomerado.

Não é desculpa, longe disso. Agradeço, até porque, essas antecipações, meus adiantados permitem que meu foco fique concentrado naquilo que adormece no desfocalizado.

Sento ali no canto, rodeado de cheiros metropolitanos; acendo um cigarro e Observo.

Carcaças humanas adentram na portinha número um da esperança para rever sua sorte,

Talvez dessa vez seja ele o escolhido para sair da ilha e começar à viver ou, pelo menos,

Renovar às esperanças através de sua fé nessa grande porta da desesperança lotérica.

Olhos opacos saem mais brilhantes; e suas bocas sibilam orações constantes e daqui Observo.

Novos corpos gélidos buscam conforto nos ventos, não tão quentes, de verão que assolam por entre os labirintos dessa antiga selva ancestral de concreto que, ao longo dos anos, são os únicos que detém um mapa em seus pés. No meio disso, Observo.

No meio dessa bagunça organizada, vejo mentes tão longes de seus corpos, perdidas em seus devaneios, tanto quanto o distanciamento desse microscópico planeta ao seu centro intergaláctico. Suas preocupações são de tamanha intensidade que fica apalpável ao olhos, e isso Observo.

Engraçado que existem esse portfólios humanos que se encontram ao meio do caminho determinado; desse seres borboleteadores, que os fazem quebrar seus ritmos apenas por um instantes. Mas, tão logo que os ignoram, voltam para seus limbos de preocupações constantes. Daqui observo.

Ah! Mas não posso deixar de notar olhares curiosos que cruzam com os meus, intrigados e instigados a questionar o porquê de uma gravata estar ao lado de um trapo “Como, uma cena dessa, pode ser possível e qual será seu sentido?” é o balão que surge em cima de suas cabeças a qual gargalho e Observo.

Poucos são aqueles que percebem essa situação pitoresca, onde se encontram dois opostos, porém, tão semelhantes em sua natureza. Um goza e prova de seus profundo desapego com essa falsa modernidade criada e recriada arduamente por seus mancebos; o outro conforma-se com aquilo que lhe foi entregue como um modus operandi, um bobo encantado e, assim, me Observo.

Eu que uno-me temporariamente nesse anonimato, como ninjas bem treinados. Talvez não esteja tão treinado assim, pois, uma mudança começa a ocorrer pelos olhos fervorosos que começam abater-se sobre mim. Nesse julgamento infligido de todos contra o um que pretende rebelar-se através da preguiça. E assim Observo.

“Meu lugar não é ali” podem estar pensando porque fugiu da rotina desse pobre homem cotidiano. Nossa mente busca refúgio e felicidade naquilo que é habitual, e estrago esse acordo tácito e subliminar entre tais seres civilizados ao tentar não ser igual. O cigarro está prestes à acabar, assim como meu tempo de Observar.

O real trapo precisa voltar para sua rotina exemplar, em seu cubículo magnífico com suas tarefas elevadíssimas de servir à uma pobre e miserável Justiça. Oh! Como isso Observo.

Mas, enquanto isso, o homem ao relento em sua cama dura, certeira, fria e companheira, este sim!

Este sim, não deixará de notar os escravos felizes que nós somos das formas que engendramos, preservamos e idolatramos

sem Observar.

 
 
 

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