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Ficcionando Realidades e vice-versa.

  • Diversos em um.
  • 20 de out. de 2017
  • 4 min de leitura

Vincent Van Gogh - Starry Night ( noite estrelada)

Certa vez fui alertado que todos os textos estavam voltando-se muito para temas religiosos e, por isso, tornou-se um pouco maçante para os leitores. Concordo com toda força (não porque é namorada haha), mas pelo simples fato que todos nos carregamos religiosidades ao longo da vida que tomam as mais diversas variações. Sem perceber, claro.


Essas variações, guardada devidas proporções, são espécies de uma forma que posso chamar de Ficção porque não está apalpável (em um primeiro momento até que alguém o torne real) no mundo existente, dos sentidos. Em outros termos, dois mundos dividem-se: o da Abstração (Ficção) e o da Materialização (Realidade). Platão, Parmênides, entre outros, referiam-se a isto como mundo Ideal e o mundo de Sombras (essa realidade palpável).


Vejam, o motor dessa Abstração está ligada em uma das diferenças abissais entre nós e qualquer outra espécie que caminha sobre a face da Terra: capacidade de imaginação. Não somente isso, mas de acreditar no produto dessa imaginação e transferir, compartilhar, para outras pessoas através de textos; músicas; conversas/debates; peças de teatro etc, etc, etc (quiçá transferir até mesmo para outras espécies. Por que não?).


Como disse no segundo parágrafo, essa Ficção não é apalpável, ficando suspensa como uma possibilidade de vir-a-ser no mundo existente, até que a transição seja feita, construída, por alguém. Isto é, existe uma ligação muito forte entre esses dois mundos, sendo que, arrisco dizer, dependemos mutuamente desse equilíbrio.


Escrevo “Nós” porque qualquer outra animal vive sem todas essas Abstrações que criamos e, talvez, estar atado à isto seja um dos efeitos colaterais de sermos dotados de imaginação; essa capacidade incrível de “poderes” extra-sensoriais (pensamento imaginativo).


Para evitar conflitos, me abstenho de utilizar-me dos conceitos da física quântica como exemplo e, por isso, prefiro que pensem como se dá uma construção de escritos. E, quem melhor para descrever isso do que Edgar Allan Poe?


Esse autor explica de que forma construiu seu poema “O Corvo”, deixando claro que qualquer poema/prosa/narrativa não nasce pronto na cabeça. É preciso todo um empenho para verificar como aquilo será posto no papel (quantidade de linhas; palavras que serão utilizadas; sonoridade etc etc). Ou seja, não basta surgir a Ideia, faz-se necessário utilizar-se de meios já existentes (papel, canetas, estruturação de textos) como limites e parâmetros; um princípio real por assim dizer, antes de tentar prosseguir com próximo passo. Até mesmo a inovação parte de algo preexistente.


Voltando para o sentido desse texto. Nosso mundo, o mundo humano ou realidade humanística não compõe-se simplesmente de Realidade, senão estaríamos, ainda, amedrontados dentro das antigas cavernas ou sentados à beira dos rios do Éden.


Estamos além da Realidade, pois importamos e materializamos parte de um segundo mundo, o da Ficção. E isso pode ser uma faca de dois gumes, porém, é o que nos dá a capacidade dominar, melhor dizendo, adaptar-se ao meio ambiente, evitando maiores catástrofes que nossos conterrâneos (outros animais) não conseguem.


Como escrevi antes, a religião (no sentido de divindades de toda sorte) é apenas a ponta do iceberg, aquilo que está mais explícito. Por isso, quero abordar alguns outros exemplos que podem passar desapercebido.


Primeiro, o “Estado” ou a “Polis” se paramos para analisar, não existe. Contudo, não evoluiríamos sem que tivesse existido, e isso é fato. Observem, o que compõe o “Estado” é nada mais, nada menos, do que um agrupamento de pessoas que regem uma outra parcela, revestidas de autoridade que também é uma construção humana. Na natureza, a “Autoridade” é exercida, em sua maioria, por aquele superiores fisicamente; como humanos, resolvemos que essa autoridade é cedida por voto, por exemplo.


Nesse mesmo sentido, uma “Nação” também não pode ser apalpada, ao passo que as características que a compõem sim (as pessoas, o chão/território, as construções públicas, etc). Assim como um “Estado democrático de Direito” também é uma pura ficção onde fomos ensinados a temer e respeitar e, olhem que loucura, limita ou evita que um “Estado” torne-se ilimitado. Uma Ficção limitando uma Outra.


Segundo, o “Dinheiro”, esse pedaço de papel ou um dígito eletrônico, não teria Valor (algo também inventado e comumente aceito) caso não fossemos instruído nesse sentido, que veio substituir a natureza da troca/escambo para facilitar nossas vidas, evitando de carregar sacos de milho e feijão por ai. O Dinheiro, assim como a Religião, são o grau máximo de Ficção. Isso explica a semelhança do fanatismo, assunto para outro texto.


Enfim, fiz meu ponto e deixo aqui outros exemplos de Ficção para que pensem como vivemos em meio à ela: Direitos Humanos; Pessoa Jurídica (uma ficção legal que dota uma empresa como se fosse “viva”); Mercado; Propriedade Privada ou Pública; Ideologia de Gênero; Matemática (algo abstrato, pois 1+1 é diferente de 1 maçã + 1 maçã).


Pode até parecer bobagem, no entanto, acredito que o ser humano é o único detentor das chaves para esse segundo Mundo. Se me perguntar quando e como isso ocorreu, ficarei devendo, mas a pergunta que devemos realmente fazer é: De que forma utilizar para nosso benefício?


Esse “benefício” deve ser constatado pessoalmente, mas entendam que deve ser analisado, assim como um investidor, tanto por seus resultados imanentes (no agora) como prevendo um futuro benéfico. Por exemplo, quanto tempo levará para que, aqueles que abraçam esse mundo, onde expurgam-se todos aqueles que não cantam no seu mesmo coro, volte-se contra ele mesmo?


Por fim, compreender de que todos os conceitos são Ficções e, por essa mesma natureza, são passiveis de mudanças, é essencial para continuar nossa evolução. Tudo, assim como Nietzsche explica, são ídolos de barro que devem ser marretados e fundidos em novos!

 
 
 

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