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Seppuku – Setembro, Outubro, Ano amarelo.

  • Victor Câmara
  • 16 de out. de 2017
  • 4 min de leitura

Schopenhauer, aos olhos de Emil Cioran, seria uma mera criança com sua imaginação esvoaçada e chorosa, pois é difícil identificar outro autor que tenha refletido tanto tempo sobre os abismos que encontram-se em toda espécie humana; sobre o conceito de vida e morte, principalmente sobre o suicídio.

Bom, parto da mesma primícias de Cioran (talvez inspiradas por seu antecessor Nietzsche) onde critico tudo aquilo que tomo como dogma intransponível; absolutos que encontram-se enraizados nesse Ser, seja sobre o nome de Deus ou Ciência. Isto é, essa chama que dilacera silenciosamente o espirito, fazendo com que busquemos preencher essa necessidade de encontrar um fim, uma causa e justificativa primordiais.

“Pode-se sufocar tudo no homem, salvo a necessidade de absoluto, que sobreviverá à destruição dos templos, e mesmo ao desaparecimento da religião sobre a terra” - Emil Cioran

Engraçado que a religião ensina em olhar para os céus e deixar que esse abismo seja preenchido com alguma forma divina e todas suas alegorias variadas; ao passo que a ciência, o homem moderno, analisa este objeto incólume de soslaio com medo de que o abismo o olhe de volta e, por isso, também se preenche com ilusões – anseios de felicidade (consumo exagerado, racionalismo cientifico, utopias, panaceias modernas – psicologia, psiquiatria, veganismo, iogue, budismo, cultuação ao corpo, etc).

Tudo isso para evitar em afirmar que esse vazio, este abismo inerente, é incurável e nos seguirá incansavelmente. Para Cioran resume-se no seguinte: “Como curar um mal não localizado e extremamente impreciso que aflige o corpo sem deixar vestígio, que se insinua na alma sem marcá-la com nenhum sinal? Parece-se com uma doença a que tivéssemos sobrevivido, mas que houvesse absorvido nossas possibilidades, nossas reservas de atenção e nos tivesse deixado impotentes para preencher o vazio que sucede ao desaparecimento de nossos horrores e ao desvanecimento de nossos tormentos. O inferno é um refúgio comparado com este desterro no tempo”; E mais “Criador de valores, o homem é o ser delirante por excelência, vítima da crença de que algo existe...” e “O tédio é o eco em nós do tempo que se dilacera..., a revelação do vazio, o esgotamento desse delírio que sustenta – ou inventa – a vida...”

Por fim, termina com uma provocação revestida de dúvida: “Como inventar um remédio para a existência, como concluir esta cura sem fim? E como recuperar-se do nascimento?”

A resposta que encontrei foi: Não quero cura! Mas, calma lá que isso não é tão simples ou mórbido quanto parece à primeira vista. Encontrar uma cura, uma salvação, significa aniquilar o que somos de melhor e aquilo de mais precioso no ser humano: a dualidade. sim! Sim!! SIM!!! Somos uma explosão colossal e abstrata de embates entre opostos que juntos formam à VIDA; conflitos de opiniões formam teorias; dúvidas engrandecem o intelecto; discussões chegam à soluções.

“A salvação só preocupa os assassinos e os santos, os que mataram ou superaram a criatura; os outros chafurdam – bêbados perdidos – na imperfeição...” Sejamos mais Bukowiski’s! Mais Salvador Dali’s! Porque existe uma grande arte em meter o louco, já dizia algum poeta.

Vejam, a única certeza que existe é a morte e a “a vida é apenas um estrondo sobre uma extensão sem coordenadas, e o universo uma geometria que sofre de epilepsia”. Entretanto, se tudo é imperfeito, sendo a vida é uma grande ilusão teatral e o vazio é a certeza; Se tudo isso é verdade e o ser humano está condicionado em sofrer sem salvar-se; criar ilusões para refinar seu sofrimento, como sustentar nossos atos? Penso, logo existo. Creio que não.

Receio em afirmar isso, mas o suicídio é o sustentáculo do ser humano. É o ato supremo de rebeldia contra o tempo, dogmas e amarras; uma afronta contra

à ordem natural da matéria que nasce com prazo determinado de validada; a humilhação suprema de todas as entidades; uma ação que resume e exprime o grau máximo de LIBERDADE. E é esta LIBERDADE “que insufla uma força e um orgulho tais que triunfam sobre os pesos que nos esmagam”!

E aqui o populacho se manifesta com indignação, as massas apelam para a insensatez e clamam por fogueiras e calabouços, mas analisem com cuidado esse poder que nasce contigo. “Poder dispor absolutamente de si mesmo e recusar-se: existe dom mais misterioso? Todos os utensílios nos ajudam, todos os nossos abismos nos convidam; mas todos os nossos instintos se opõem.”

Ao tomar consciência e refletir demasiado tempo sobre o sofrimento interno; ao olhar para o abismo e perceber que ele o olha de volta, surgirá duas opções: A Morte ou a Resistência. Cioran com tudo que escreveu fez sua escolha ao abraçar a Vida em toda sua abstração e na falta de sensatez. Eu também fiz essa escolha! Erijo e destruo meus templos como escrevo nesse blog.

Para encerrar, deixo um último trecho sobre o suicídio: “Ela nos faz suportar os dias e, mais ainda, as noites; já não somos Pobres, nem oprimidos pela adversidade: dispomos de recursos supremos. E mesmo que não os explorássemos nunca, e acabássemos na expiração tradicional, haveríamos tido um tesouro em nossos desamparos: existe maior riqueza do que o suicídio que cada um carrega em si?” O único meio capaz de legitimar tudo que aguentamos, pois o discurso muda e fica dessa maneira, para aqueles que refletiram e refletirão sobre esse assunto:

“Combati o bom combate e guardei minha fé. Toda a adversidade que surgiu e desolou esse ser, só o foi assim porque eu o quis! E assim aguentei, pois, de outra forma, ninguém poderia impedir de me expiar porque o final não é NOSSO e nem escrito por vocês; sou dono de meus próprios adeuses. Sou o autor e protagonista de meu final.”


Já nascemos com à certeza, então busquemos as ins.

 
 
 

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