Metanfetamina – Mais uma dose...outra, novamente, por favor.
- Victor Câmara
- 5 de set. de 2017
- 3 min de leitura

Não há tempo para perder!
Nada é rápido o suficiente para nós, bio autômatos. Estamos aptos a realizar quantas tarefas forem precisas. Não há tempo para descanso ou meu descanso deverá ser por um propósito: incrementar minha produtividade.
Louvemos esses novos senhores; louvemos essa nossa geração do superaquecimento mental. Teste: medite sobre sua respiração, por tão somente cinco minutos e perceba que somos dotados de uma concentração esparsa, com turbilhoes de desejos ao mesmo instante que se esgotam antes mesmo de inicia-los.
Um computador precisa de resfriamento e o que falar do maior de todos: nosso cérebro. “Mas, quem determina quem aguenta o tranco sou eu!” Será? Não existe mais alguém chicoteando nossas costas porque utilizaram de outro método: da cenoura posta à frente do boi.
Saímos de uma sociedade sólida, onde tudo estava proibido para adentrar em uma líquida com tudo permitido. Hoje você não é punido por desejar algo escondido, dito como ruim por uma corte real; somos punidos, agora, justamente por deixar de desejar.
Esse é o plug-in da matrix, nossa cenourinha: Pode consumir, logo DEVE consumir (dentro). Você pode consumir, mas não quer (fora). Você não pode consumir (fora), até que encontrem alguma utilidade (roube, mate, etc etc).
Desejo atrás de desejo, incansavelmente, interruptamente. Goze! Goze! Usufrua! Usufrua! Mais rápido, mais rápido!
C O N S U M A !
Não importa o quê, não importa como, simplesmente deseje e consuma. Em grande escala e intensamente, de preferência. “Somos subprodutos de uma obsessão com o estilo de vida” – Fight Club
Esse novo imperativo depende da espontaneidade com nossos desejos a toda hora, e isso é uma ponte do texto “a era do bosteiro”. Por exemplo, nossa mídia e suas marionetes impõe e sobrevive de escândalos piores do que os anteriores, pois é a única coisa que prende atenção, que vende.
Nesse sentido, tudo entendia e nada é bom o bastante para prender nossa concentração. Músicas com refrões enxutos, repetitivos e fácil memorização, até porque preciso de espaço no HD; resumos e sínteses para evitar o tempo de aprofundamento e reflexão. Até mesmo no xadrez existe uma modalidade chamada “bullet”, que consiste em jogadas até o limite de 1 minuto – um fucking minuto para jogar xadrez! Sob justificativa que o convencional (ou até mesmo o “blitz”) é muito entediante.
Isso tudo provoca o esgotamento, exaustão, e nos torna mais suscetíveis à domesticação. Somos Leões presos em zoológicos com 6 refeições ao dia, com acompanhamento de nutricionista; Pássaros que cantam e esfolam suas vozes toda vez que tiram as capas de suas gaiolas, 12 vezes ao dia; Tubarões que brigam por territórios, dentro de tanques teatrais, sob a ilusão de liberdade e medo.
Erguem-se estatuas de sucesso e bombardeiam em nossas mentes; incentivam nosso vicio até a quebra, para depois verificar a possibilidade de administrar os cacos. E claro, como bons animais domesticados que não querem ficar de fora, culpamos a nós mesmos e tentamos desesperadamente voltar. Uma submissão entregue de bom grado.
Talvez essa quebra seja conhecida por outro nome: Fracasso (no trabalho, senão na família, com amigos ou até mesmo consigo mesmo). Imputado para nós, sob a seguinte frase: “você não soube auto administrar seu vício”. Eu tenho uma de retruco: “caso ganhe uma corrida de rato, você continuará como rato” - Banksy
Mas, talvez essa seja a solução. Proporcionar e catalisar o esgotamento e provocar a Ira! Ambos, ingredientes primordiais para revoluções. Uma overdose como válvula eruptiva de saída; expandir o cérebro através do sobrecarregamento. Aborto Neural! E erguer-se com uma nova perspectiva.
Porém, até esse ponto chegar, me dê mais uma dose, por favor. Preciso continuar.
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