Artistas construtores de si.
- Victor Câmara
- 2 de ago. de 2017
- 3 min de leitura

Imaginem residir em uma cela onde não exista janelas, portas, iluminação ou qualquer contato direto com o mundo. Nesse mesma fantasia, pensem que o único contato seria realizado através de sussurros, e caberia à você interpreta-los da “melhor” forma (com melhor forma, entenda por SUA forma).
Aterrorizante não é? Bem, esse é você, melhor dizendo, o seu cérebro/mente. Não quero parecer muito cientifico, ao contrário, quero demonstrar que somos artistas presos buscando interpretar a si mesmo, tanto como o mundo, sempre através de informações de terceiros (um prelúdio do porquê dos vícios, pois, imaginem estar nessa cela e descobrir algo que lhe faz MUITO BEM. Você agiria diferente?).
Pare um momento para refletir sobre essa maluquice. Nosso cérebro não possui olhos para analisar uma paisagem ou orelhas para sentir as vibrações sonoras; muito menos paladar para apreciar um belo mangiare, tudo que resta para ele/nós é “sentir” o mundo através desses impulsos e orquestra-lo (guiar o corpo) para explorar mais e mais sensações. Até mesmo a dor e prazer são concepções da própria mente.
Eis o motivo do seu corpo ser sagrado. Não por ser o templo do espirito santo, mas um meio para sentir o exterior; a condição de existência do nosso Ser, pois dependemos estritamente do corpo para apreciar/interpretar esse mundo. Nosso corpo representa um portal e veiculo para uma outra dimensão. Essa, que nos rodeia todos os dias, e não uma que se encontra no além ou post mortem.
O motivo de Sócrates e toda filosofia ocidental (cristianismo, entre eles) deixarem de lado ou até mesmo montarem verdadeiras guerras contra a carne em troca de um MUNDO DAS IDEIAS, para mim, é inconcebível.
Nosso cérebro não só recebe impulsos, como remonta esse quebra cabeça de tal modo que fica compreensível. Sem contar que são milhões e milhões de “terabytes” de informações adentram na cela, cabendo para nossa mente {analisar/ interpretar/valorar / armazenar / deletar} e, através desse processo, tomar ou não atitudes que por sua vez iniciarão novos processos (posso acrescentar que tudo isso em questões de segundos?). Duvido que o mega computador WATSON consiga realizar isso sem fritar seus circuitos!
A razão disso repousa na natureza mutante, nulifica qualquer presunção que tenhamos adquirido. Pregamos um quadro na parede e o deixamos mofar, perdendo a oportunidade de atualizar-se.
Também deixamos um lado subjugar o outro, parece não existir o caminho do equilíbrio, pois somos apaixonados demais ou racionais demais (atualmente a razão está na dianteira). Crescer, para mim, significa aprimorar esse equilíbrio, conseguir admirar-se com um fato sem abandonar o “por quê?”.
A ideia budista de que alimentamos uns dos outros reflete essa ideia. A diferença é que budistas estão fadigados demais, exaustos em demasia por acreditar que todos os atos, uma hora ou outra, voltarão contra ele de alguma forma (Kharma/Dharma) e, por isso, resguardam todas suas forças.
O que quero dizer? “Faça da sua vida uma obra de arte; uma estética da existência; você vai se reinventando”. Deixe seu frenesi entrar em ação sem deixar de seu lado estético/controlado; explore toda sua potencialidade, tanto o lado racional como o irracional; eleve seus dois hemisférios à máxima potência.

Somos pintores pintando um pintor que, por sua vez, também está pintando e assim sucessivamente, sempre ampliando a paisagem. Como Reggie Watts cantou no show: “Ao monitorar constantemente o pensamento em si, não só o levará a lugar nenhum, como isso lhe dará uma enorme dor de cabeça. Então tente não fazer isso; Em vez disso, tente fazer algo que está bem fora da caixa. Como, em algum lugar, se você visse o quão longe da caixa que você estava, você não seria capaz de dizer o que era essa caixa, em comparação com a paisagem em que você está comparando.”
“Se quiser ter prosperidade por um ano, cultive grãos. Por dez, cultive árvores. Mas para ter sucesso por 100 anos, cultive gente. Agora, para prosperar mesmo, a cada instante, cultive a si mesmo.” – Confúcio 2.0
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