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Carnivorismo milenar.

  • Victor Câmara
  • 5 de jul. de 2017
  • 4 min de leitura

Defender uma causa é totalmente válido, principalmente esta que acredito ser a próxima etapa evolutiva. Todavia a apodítica falta de bom senso dos adeptos ao veganismo por tentar revolucionar tomando velhos caminhos; pretendendo alcançar novos horizontes, seguindo as mesmas rotas, levará a própria ruína do movimento.


Por quê digo isso? Primeiramente, há de se parabenizar aquele que decide seguir os caminhos do veganismo ou até mesmo vegetarianismo. Reverter o modus operandi milenar do cérebro ao escolher uma forma eficiente de se relacionar com o meio ambiente, é louvável.


Contudo, nossa evolução sustenta-se no fardo de ter conquistado a natureza (carne animal, pele, etc), e não há como negar que as vidas de nossos antepassados dependeram desses fatores. Você, vegano, está lutando contra uma cultura apregoada e que transcende a capacidade humana de compreensão temporal (Para mim 100 anos é muito, agora imaginemos 1000 de fixação de ideias, passadas de geração em geração que a carne é o melhor alimento?) e precisa iniciar o combate de forma inteligente. Que tal? Não existe varinha mágica que dê conta.


Primeiro, precisam parar de tentar assimilar a antiga cultura com expressões do tipo “carne” vegana, feijoada vegetariana, somente para ganhar adeptos. Parece existir uma pontinha de saudade dos velhos hábitos que impulsiona a utilizaram jargões desse tipo. Pior, parece um discurso do tipo “Ei! Você pode continuar com sua rotina consumista aqui também!”


Nesse sentido, se desvencilhar dessa cultura do desperdício e dependência, expressada nas máximas “melhor sobrar do que faltar” ou “comer de 3 em 3 horas”, é essencial! Vejam, todas nossas reuniões sociais e familiares sempre estão ao entorno de comer alguma coisa; em todo encontro deverá ser servido alguma espécie de quitute (com tanta abundância que saía pelo ladrão, e assim não me chamem de miserável!); nos tornamos paranoicos para fazer de tudo para comer em horários determinados, mesmo sem fome. Isto é, de nada valerá os esforços se continuarem a incentivar esse consumo anormal, e não começar a observar o que faz bem e mal para a própria saúde.


Além disso, é engraçado como estamos tão acostumados em depender de falsas informações que, ao seguir a modinha para o vegetarianismo, também levamos essa dependência. Tudo precisa ficar esclarecido, sem cartas nas mangas: Seitan é proteína de trigo (glúten, alimento altamente alérgico); Tofu, Natto e Tempeh são da soja (ex, perigosa à saúde) e Carne é proteína animal (ex, certos corte favorecem os compostos cancerígenos); que o gado faz mal ao solo, ao contrário, existem estudos que demonstram os benefícios para recuperar áreas afetadas pela desertificação, etc etc.


Segundo, faz-se necessário ensinar que, independente da sua ideologia culinária, explorar outras formas de se alimentar é se conectar com o mundo, tirando o máximo proveito para si. Existe uma vasta lista de alimentos que podem ser utilizado para balancear nossa alimentação (inclusive com certos cortes de carnes que são ricos em aminoácidos e proteína, Sr. Vegano) e, com isso, se tornar independente até mesmo da alimentação.


Porém, isso implica em realmente observar sua alimentação, mas, convenhamos, gostamos da rotina e não possuímos tempo para isso, né? Desejamos algo rápido, prático, “eficiente” e servido a cada 3 horas. Plantar uma parte da própria comida? Para que? Já está tudo pronto.

Terceiro e mais importante. Discorri muito sobre ser ou não ser vegano, mas, vamos discutir um pouco sobre aquelas pessoas que não possuem tal escolha. Aqueles pescadores das comunidades afastadas que dependem daquilo para viver e, que se existe alguma outra forma de subsistência não lhes fora ensinado; das pessoas carentes que não possuem recursos para ficar escolhendo o que comer ou que desejam também fazer seu churrasco no domingo (se eles podem, por que eu preciso abdicar disso? Se é tão ruim, por que não param primeiro?).


Esses são os casos de deixar os pedestais evolutivos e fazer a diferença. Ensinando Permacultura, agricultura caseira, abdicar de certos padrões e pensamentos etc. Porque ficar discutindo em redes sociais ou postando videozinhos de matança animal, sinceramente, é muito fácil e não provoca mudança alguma. Mesmo exemplo de mostrar vídeos de guerras e violência. (Sejamos francos. É tão somente um artificio para provocar culpa nas pessoas e, assim, te idolatrarem como um ser tão iluminado que não toma parte nem incentiva tais atos). Tampouco se aliar na argumentação de insultos e tons de superioridade (não preciso citar que se livraram do peso da matança, mas ainda estão inseridos, no que Marx chamou, no fetichismo cultural).


Resumindo, por que ao invés de atacar as pessoas para tentar despertar suas consciências, não são fornecido alternativas? E que fique bem claro duas coisa: fornecer representa o contrário de impor e que imposição não cria consciência, ao contrário, gera manipulados.


Todos possuem o próprio ritmo para mudança, mas o importante é mudar. Não ficar reféns da rotina, muito menos do estômago. Se em um dia como 1 kg de carne ( e não vejo o problema em comer carne), no outro diminuo para 800 gramas e como outro tipo de proteína; no outro simplesmente fico de jejum; no outro volto para 1 kg, mas de salada. Vejam, é indiferente o que escolho, desde que me faça bem naquele momento.


Certa vez, assisti uma entrevista do João Gordo, no programa da Bela Gil, em que chamou atenção para uma de suas respostas: “Todos me perguntam se sou vegano e minha resposta é: Não sou vegano, mas tento ser todos os dias”. Essa é a concepção que tenho de um vegano. Uma luta constante contra seus velhos padrões; uma busca por novos meios de produzir sem necessidade de explorar tanto uma vida (tanto vegetal, fungi e animal, ok? Porque não existe hierarquia de qual vida vale mais – esse é um discurso para melhor a sua consciência de que a planta também foi morta); impulsionar ou realizar algo que faça com outros sigam o seu exemplo (criação de uma empresa ou cooperativa, tanto faz, com o objetivo criar um mercado interno e favorecer a comunidade em que está inserida – iniciar um plantio caseiro etc).


“Ser Vegano não é uma questão de ser perfeito ou cool. Consiste simplesmente em buscar o equilíbrio possível entre o que faz bem para o meu corpo e o meio ambiente. Mas, tudo começa com o pensamento de mudança, e compreender decisões diferentes”.

 
 
 

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