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Um recado nunca entregue.

  • Victor Câmara
  • 23 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

Espero que um dia possa ser mais aberto para os mais próximos. Um dia talvez. Até lá, eis o meu recado:


Bom, passei anos estudando Direito, não porque é um aparato de auxilio, ao contrário, o considero um grande instrumento manipulador, conservador, limitador, moldador de caráter das pessoas. Existe um princípio onde reza que todos os cidadãos podem realizar tudo aquilo que a Lei (Lei faz parte do Direito, mas não é ele em si) não proibi. Mas, aqui está um problema: O que fazer quando todas nossas atitudes estão emolduradas e determinadas na Lei? Como se desvencilhar de um sistema que é lhe ofertado e impregnado em sua mente como correto?


Nossa consciência de bem e mal está determinada por outro ser ou conjunto de outros alheios ao que acontece de fato, a realidade. Antes de tomar uma atitude, recorremos ao Direito para valida-lo. Essa história de que podemos fazer tudo aquilo que não está proibido é invenção, principalmente no que concerne em um País onde tudo está regulamentado, nada escapa do Estado.


Concordo com filósofo Kant quando escreveu que o Direito é um conjunto de direitos e deveres externos, a qual devemos obediência. Sendo aqui, irrelevante a sua moral, pois o que importa é o que a maioria determina ou aqueles que possuem mais poder.


É bom salientar de que o Direito é tudo aquilo que impera, de forma externa, sobre como você deve agir para ser recompensado (normas jurídicas, hábitos culturais, leis divinas, imposições familiares, etc..). A famosa dicotomia de direito e dever onde, para conseguir possuir algum respaldo (direito à saúde, educação, salvação etc.), você primeiro precisa cumprir com seu papel de cidadão (trabalhe, reze, pague imposto, siga as regras ou dogmas, obedeça, vote, “eu sei o que é melhor para você”).


Pegue qualquer atrocidade durante nossa existência, e verifique que em todas houve legitimação por parte do Direito, desde das fogueiras na inquisição até o massacre de certas populações (Um exemplo emblemático está nas sentenças de morte por parte dos juízes Alemães e Americanos que somente estavam seguindo Leis). Contudo, sempre existiu aquele que resistiu às imposições ofertadas, os famosos “testas de ferro”.



Esse termo é muito preciso porque essas pessoas realmente enfrentam os primeiros impactos de seguir o próprio caminho, sofrem como nenhum outro antes. Mas, o mais importante é que se fortificam com o tempo e suas provações. Citarei dois exemplos.


Minha Vó, mesmo com todas suas opiniões contrarias ao que penso e crenças, tornou-se pastora em uma época em que os dogmas não permitiam, até mesmo o Direito “Divino”. Muitos somente vêm o agora e esquecem como era difícil uma mulher assumir o papel de liderança - “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem (sobre o marido, em algumas traduções); esteja, porém, em silêncio. 1 Timóteo 2:11”. Ascender nesse âmbito, por obvio, deve ter sido dificultoso e somente ela sabe o preço pago.


Nesse mesmo sentido, assisti um filme que retrata a vida de um homem que conseguiu ser mergulhador na marinha americana. Até aqui, tudo bem, mas deixe me acrescentar que ele era negro, do interior, sem instrução numa época em que o racismo prevalecia de forma pública. Seu nome, Carl Brashear.


Contudo, existem lados negativos e considero até mais assombroso, que paira sobre o “sucesso” dessas pessoas. Por quê? Bem, assim que trilharam os próprios caminhos, dando a cara à tapa, enfrentando de peito aberto, pode ocorrer de considerarem esse caminho o correto e perfeito. Esquecem ou não sabem, que toda a Verdade é individual.


E mais, acreditam que o sucesso da geração futura deverá ser alcançado pela mesma via, se portando da mesma forma. Engraçado que queremos mudança, evolução, mas tomamos os velhos caminhos novos.


“I am the one who has to die when it's time to die, so let me live my life the way I want to” – Jimi Hendrix


Ocorre que as circunstâncias pelas quais enfrentaremos serão totalmente diferentes, quiçá pioradas. Tomemos o exemplo do Carl Brasher, que realmente abriu caminho para outros jovens negros sonhadores. Porém, os mesmos racistas, que tentaram impedir o primeiro, se fortaleceram para não deixar, a exceção, tornar-se regra.


Sendo assim, por acreditar que as situações continuarão as mesmas e de que precisaremos se preparar apenas seguindo as “regras” (moldes estabelecidos - o Direito), perdemos a capacidade de improvisar/criar/redefinir/questionar e, por isso, acabamos por cair em precipícios incapacitados de sair. Tanto pela cegueira em não perceber que os membros foram amputados, como de vislumbrar o buraco em que estamos (nem quero adentrar naqueles que enxergam, mas não querem ver).


Para encerrar, reconheço a força de potência, a determinação, daqueles que construíram seus caminhos antes de mim; admiro essa expansão que fizeram em seus próprios limites. Contudo, agora é nossa vez! Não esperem que abram o espaço para nós, isso compete a você.


Não se sintam incomodados quando passarem por eles, pois não estarão passando por cima, ao contrário, caminhos diferentes não se juntam apenas cruzam eventualmente. Uma guitarra, um baixo e uma bateria, apesar de estarem em sincronismo, possuem sua própria distinção e individualidade.


No entanto, esperem resistência de si. Aquela voz interior que insiste em dizer para voltar e trilhar o caminho mais fácil, o pronto. Existe um ditado: “Só descobrimos o quão forte somos, quando precisamos lutar contra si”.


Eis a minha síntese: Não cedam e nunca se estagnem! Sejam uma Voz, não um Eco! Se libertem dos dogmas, da dicotomia direito/dever, das correntes, da cultura imposta, até de si mesmo! Busquemos a revolução, aperfeiçoamento de nossa própria natureza, o refinamento, a grandeza.







 
 
 

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