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Sossego - "A maior conquista do ser humano".

  • Victor Câmara
  • 14 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

Somos cordeiros brigando entre si, para ver quem chegará primeiro no abatedouro. Nosso “sossego” tornou-se uma prioridade, um produto vendido na liquidação. Pois, que outro motivo estaríamos brigando tanto para receber alguns trocados revestidos sobre o nome de aposentadoria? Sendo que esse trocado servirá para ser gasto em hospitais, remédios, juros de empréstimos para comprar coisas das quais foi privado quando jovem, convênios médicos ou ficar na dependência dos filhos que também estão afundados em dívidas. Ou seja, uma forma de exprimir o resto de nossa utilidade.


Para começar, quero deixar bem claro minha definição de aposentadoria. Para mim, a definição é esta: “uma recompensa por ter sido um corpo dócil ou permitir-se se transformar em um, e ter utilizado toda sua força de forma produtiva para aquilo que outros determinam. Uma moeda para que utilize na maquina de balinhas, por ter sido um bom garoto que não pediu nada dentro do supermercado ou uma cenoura colocada à frente”.


É impressionante como buscamos tratar a doença em seu estado terminal ao invés de remediar. Isto é, brigamos e exercemos toda nossa resistência contra o resultado do sistema, ao passo que o problema está lá atrás quando começamos a sermos moldados para tornarmos produtivos, independente se gostarmos ou não das “opções” impostas para nós.


Afinal, quando chegar o momento (ser considerado improdutivo) vamos todos adentrar na “melhor” idade para desfrutar da vida até então abdicada e perseguir os sonhos.


“É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. (...) A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos ‘dóceis’. A disciplina aumenta as forças dos corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência)” Foucault - Vigiar e Punir.



Somos ludibriados a acreditar que, ao se submeter a esse remodelamento, seremos recompensados quando estivemos velhos. Vejam as propagandas de convênios médicos ilustram senhores com sorrisos estampados nos rostos; bancos emprestam o dinheiro da sociedade com juros absurdos para que esses senhores comprem coisas das quais foram privados quando jovens, visto que precisavam trabalhar bastante para garantir sua aposentadoria.


“Melhor idade” que termo mais ridículo, talhado para esconder e alegrar os senhores e senhoras que gastaram toda sua potencia naquilo que nunca foram seu objetivo; que prorroga o agora, a juventude, no intuito de dizer implicitamente que você somente aproveitara sua vida no futuro. Agora, é hora de repetir até se exaurir, passar em vestibulares, ser medido por provas, melhorar-se através de exercícios, extrair mais tempo do próprio tempo, nossa produtividade precisa vir de cada segundo, divide-se o tempo pelo infinito juntamente com o individuo, e somente parar quando já não existir forças dentro de você que seja passível de ser explorado.


Que melhor idade é esta em que nosso corpo não responde tão bem a impulsos cerebrais? Que começa a perceber os efeitos de todos os remédios que prescreveram para manter-nos sãos e continuar trabalhando? Das horas e horas a fio, com direito a energéticos e pílulas de cafeína na madrugada estudando para passar naquela faculdade que lhe garantira um melhor posicionamento nessa pirâmide escravagista chamada sociedade moderno devido aquele emprego ou concurso publico? Dos anos sentados em cadeiras escolares para condicionar o corpo a passar longas horas na mesma posição?


Aqueles que nos exploram não podem dar ao luxo de utilizar conta gotas para disseminar seu veneno, agora a corrida é contra o tempo para espremer a ultima gotícula de utilidade/produtividade. Para isso, faz-se necessário acelerar o tempo para não mais aguardar em filas para consumir e receber preferência em bancos para adquirir empréstimos com condições especiais (de juros implicitamente gigantescos).


Não quero instituir uma filosofia da preguiça, ao contrario, somente pararei de trabalhar em meu próprio escritório quando morrer, quiça me retirarão já no caixão.


Contudo, somos condicionados desde cedo em seguir ordens, depender de autoridades; tornar-se dócil, reativo e atingir a máxima produtividade e, ao fim alcançar o sossego. E mais, o problema desse sossego determinado e vendido aos quatro cantos, é que não passa de um retorno ao estado pré-natal quando éramos alimentados por um tubo, estávamos quentinhos e confortáveis em um belo colchão d’agua, sendo nossa única preocupação em se mexer para encontrar a melhor posição e, de vez em quando, posar para o vídeo.


Você pode estar se perguntando o que isso tem há ver com a aposentadoria, correto? Pois bem, considero abrir o próprio negocio uma chave de escape, a melhor forma de garantir nossa “aposentadoria”. Com isso, não afirmo que trabalharemos menos ou que a vida ficará mais fácil, porém, no mínimo poderemos ter a chance de inovar e implementar aquilo que imaginamos ser o correto; atrair as pessoas que considera ideias para cooperar contigo; crescer realmente e deixar de ser alguém reativo para ativo.


Por fim, respondendo uma indagação que vi em um cartaz que dizia “Você quer receber sua aposentadoria pós-morte?”. Não! Não quero receber um cala boca em vida, quanto na morte; uma recompensa por receber o chicote e dizer muito obrigado. Desejo sossegar nos novos caminhos que trilho, com meus próprios pés, guiados por meus instintos e aperfeiçoado pelo intelecto ( Ah! E também aceito o quilo do bom que mandaram para o Tim Maia).


E quando quiserem sair nas ruas para protestar contra as raízes desse sistema prisional ao qual estamos inseridos, ao invés de brigar por migalhas, me chamem. Obrigado! Até lá, realizarei meu protesto à minha própria maneira. E não me venham com essa de “nenhum direito à menos”, pois, nunca vislumbrei nenhum movimento nesse sentido.

 
 
 

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