Reconciliação.
- Victor Câmara
- 25 de mai. de 2017
- 3 min de leitura

O profundo afastamento de tudo que é considerado verdadeiro, melhor dizendo, daquilo que nos impõe como verdadeira, acaba por incitar no espirito livre por tomar caminhos diferentes. E o pior, toda a vez que busca descobrir suas verdades, alguém lhe diz “olha, não percorra esse caminho pois te levará ao fundo do poço”.
Mas, o que é essa sensação de falta de ar que acomete, fazendo com que pulmões respirem com dificuldade? Talvez seja a falta de ar debaixo da terra? Mas, de onde vem esse vento gélido que açoita a alma, fazendo com que se sinta vivo novamente? Como é possível sentir assim no fundo do abismo?
Uma mera ilusão causada por anos a fio vivendo sobre a submissão da Ditadura de Verdades. Esse turvamento dos sentidos por utilizar novamente a visão, por passar tanto tempo caminhando cegos e não perceber para onde nossos pés nós levam.
Toda essa peregrinação que descrevi nesses últimos textos me alçaram para um lugar inimaginável. Aqui o ar é rarefeito, meus pulmões respiram com dificuldade, mas existe uma pureza nunca sentida antes; minha pele está cicatrizada e dura para me lembrar de tudo pelo qual passei; meus olhos estão aguçados e vislumbram lá embaixo os castelos das certezas afundarem sobre areias movediças que o sustentaram.
Agora me revolto contra minha própria passividade; essa maneira de levar as coisas com um sorriso estampado no rosto para esconder meu pássaro azul de julgamentos morais. Dessa vontade de ser político, não para buscar os próprios interesses, mas para que ninguém me perturbasse.
Isso não é viver, ao contrário, é submeter-se! Cantar dentro de uma gaiola de ouro!
Percebi que estou no topo da montanha! Não no fundo do poço, da forma que acreditei. Daqui, nas alturas e sozinho, posso refletir e me reavaliar melhor. Não mais busco desejar a verdade ou não desejar nada; não confio mais na ciência que está mais preocupada em afirmar “minha verdade é mais verdadeira” como faziam e fazem os teólogos, e mesmo filósofos ao afirmarem “só existira uma república perfeita, quando os filósofos estiverem no comando”; Uma ciência que é muito boa em destruir antigos ídolos putrefatos de barro, mas acabam por criar novos.
Tornei-me cético em relação a tudo, um dos meus reinos agora é o da dúvida. Porque para ser livre devo abdicar de todas as convicções, por mais belo que aparentem. Nenhuma será adotada como verdade absoluta, pois, no fundo, essa convicção nada mais é do que um erro ainda não desmentido. Ou todos nós esquecemos que um dia o sol girou ao redor da Terra? Para os teólogos, nunca se esqueçam que Jesus foi crucificado por ter ido contra dogmas daquela época.
Adotei o ceticismo como arma contra todos aqueles que dizem não à minha liberdade, ao criarem novas redes, novas armadilhas e novas correntes para atrelar em meus pés. Agora, sinto o cheiro de superstição melhor do que antes, consigo tatear as bases solúveis das verdades.
Através do ceticismo me tornei frio, pois não mais acredito em verdades supra sensíveis que nos consolam e adestram. Essa felicidade pacifica, submetida da maioria dos socialistas que pregam a submissão do indivíduo em pro do coletivo; dos capitalistas que fazem com que entreguemos nossa liberdade em pro de um consumismo enlouquecido; de anarquistas que se infectaram pela ideia de homem ideal; da teológica que amordaça a vontade latente de mudança inerente da própria vida; da cientifica com sua anseia de embebedar-se em verdades e na destruição e construção diária de ídolos.
Minha felicidade está em buscar novos horizontes, novas terras, assim como o antigo ditado (que modifico em partes): “navegar é preciso, pois eis a essência da vida”. Ser feliz, para mim, está em me autoconhecer e, por isso, se auto inventar todos os dias. Meu maior prazer será o de escutar “nossa, você não era assim antes de partir...”. Obrigado!
No entanto, não ouso refletir por muito tempo no topo da montanha, pois ainda existem muitos caminhos por ai. Aguardando para se revelarem.
Eis um grande veneno que precisei extirpar: cristalizar-se nas alturas, por medo talvez de voltar as bases e perder o caminho para o alto; tomar como verdadeiro, conceitos meramente temporários. Mas, essa não é a essência de meu espirito? Descobrir novas formas de escalar? Melhor dizendo, descobrir quem eu sou? A montanha possui diversas facetas e todas precisam ser exploradas.
Meus dois leões (cético e conhecimento) precisam ser constantemente alimentados. Para tanto, faz-se necessário buscar, criar, percorrer outros caminhos, desabar do topo, rolar ladeira abaixo para voltar a erguer-se.
De uma coisa estou certo, encontrei paz comigo mesmo. Finalmente, abracei meus Eu’s e estou mais atento ao que dizem. Afinal de contas, somos uma pluralidade tentando conviver no singular.
Por falar nisso, preciso ir, pois um vento gélido do oeste vem para assolar minha pele em um claro sinal de que passei tempo demais no topo da montanha...
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