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Apostasia do Imanente

  • Victor Câmara
  • 13 de abr. de 2017
  • 4 min de leitura

“Minhas magoas serão levadas pelos rios da inteligência. Sem mais Deuses limitando nossas capacidades; não mais admitirei controle. O poder está em mim. Minha razão oblitera todo e qualquer resquício dos fundamentos impeditivos da minha capacidade.”


Forte e ao mesmo tempo triste, não é mesmo? Toda minha mágoa dos dois textos anteriores foi transpassada para isso. Naquele tempo, travei uma guerra não contra o mundo, mas dentro de mim. Levantei armas e acabei me apegando a alguma ideologias, das quais hoje tenho melhor consciência dos seus significados e intenções.


Pois bem, no campo filosófico me deparei com diversos autores, mas, devido a minha eterna magoa transmutada em raiva, abominei qualquer tentativa de conciliar o mundo metafisico, melhor dizendo, não mais aceitava essa ideia de mundo transcendental (Céus). Por isso, rompi de uma vez com qualquer autor que permeia-se esse campo. Sendo assim, voltei para Karl Marx, pois o mesmo conseguiu sintetizar antigas ideias, numa única frase: “Die Religion ... Sie ist das Opium des Volkes ( A religião é o ópio do povo).” O gatilho que faltava, não?

Avistei na ideologia marxista, toda uma solução para os problemas do mundo, um norte a percorrer. Percebia de que todas as submissões e amarras eram advindas daqueles que possuíam poder, figurada na forma de dinheiro ou capital. Por exemplo, antigamente todos os artistas de renomes eram patrocinados e influenciados pelos mecenas. Hoje, acreditei naquele tempo, a culpa recai sobre os detentores dos meios de produção que impunham sobre o proletariado suas vontades e desejo, transfigurados em dominação cultural, religiosa e consumista, entre outras.


A fórmula de Marx, se analisar superficialmente e com paixão, é bem simples: União do proletariado, sobre uma única bandeira, contra a burguesia detentora dos meios de produção. A famosa luta de classes. Nesse mesmo sentido, está a ideia de transição de Marx paira na supervalorização da fraternidade e igualdade (socialismo), e o comunismo seria a pacificação e liberdade.


Bem, tudo que é muito bom estava passível de questionamentos, principalmente para o meu eu florescido desse sentimento. (Sabe aquela criança que vive perguntando o porquê das coisas?). Sendo assim, busquei mais a fundo sobre os escritos deixados, bem como de seus sucessores e me deparei com situações que se assemelhavam anteriormente.


“A filosofia marxista, Escola de Frankfurt, liberalismo-iluminista, entre outras, buscaram eliminar o fim transcendental, para criar conceitos ou princípios cognitivos. Em outros termos, a religião busca, como fim, ascender aos Céus (ver Deus-Deuses) em sua plenitude e pousar na eterna bonança. Já as ideologias, buscaram revolucionar, trazendo essa ideia para à dimensão concreta, material, empírica da realidade.

Porém, tais filosofias não quiseram superar Deus, mas, simplesmente, tomar o seu lugar; transmutaram apetrechos religiosos para o lado mais factível, sensitivo do ser humano, pois, agora, para dominar o homem moderno, faz-se necessário suplantar a falta de Deus com novos conceitos. Isso é o que chamam de revolução. Isso é o que não aceitarei. As grandes massas revolucionárias Francesa marcharam sobre influencia da classe burguesa à gritos de liberdade, igualdade e fraternidade, sendo considerados os basilares de todos os seres humanos, mas tudo isso foi retirado assim que expurgaram os Reis. Sua liberdade foi retirada para submeter-se aqueles detentores dos meios de produção, sua igualdade estar em trabalhar lado a lado com seu próximo e nossa fraternidade resta na dependência do seu trabalho e meu lucro. Oras, situação semelhante ocorreu quando as virtudes teologias católicas (fé, caridade e esperança) serviram de um único proposito, ascender a classe eclesiástica como suprema classe humana. Tenha fé nas escrituras emanadas de Deus através de seus servos; pratiquem caridade ou bem para com o próximo, abdicando de si na esperança de adentrar nos Reinos de Deus...”


Continuando nesse mesmo sentido:


“Que ideologias são estas que na verdade buscam causar desprezo e guerras entre os Homens? Ideias humanas que se igualam em maldade com aquilo que busco superar? Fomentando diversos holocaustos, igualmente quando ocorreram as cruzadas e a inquisição? Quem são eles para achar que alguém pode impor uma ditadura sobre outras pessoas simplesmente por vislumbrar um futuro, sendo este totalmente imaterial e incerto? Trocar um Deus por um Deus-Estado ou um Trabalhador iluminado, assemelhando-se ao Messias, não está nos meus planos. E mais, nada difere a utopia comunista do paraíso de Adão e Eva. Na verdade, percebo semelhanças entre um e outro, principalmente no que toca a transição do socialismo para o comunismo, pois nada mais são do que um mundo onde todos receberam o afago em todas suas necessidades, ao passo que contribuíram apenas com suas forças. O socialismo busca, assim como algumas religiões, tomar para si o poder e suprimir qualquer reacionário que atente contra a revolução (Lembra, e muito, a briga entre carne e alma) através da violência externa ou subentendida (manipulação – escrituras; eleições – revelações). Até mesmo Marx escreve que o proletariado industrial é superior aos chamados Lumpenproletariat e, estes, por não saberem o que querem, devem ser exterminados ou subjugados após a implementação da Ditadura proletarizada (novamente, a eterna discussão entre as mais variadas religiões e suas respectivas subdivisões de quem está correta).”


Como perceberam, deixei de acreditar nessas ideologias porque nada mais são que nova religião moderna. Deste modo, rompia, também, com as filosofias ideológicas metafisicas e com as imanentes, pois vislumbrei nelas um novo remodelamento de submissão e controle.


Por fim, também notei de que, assim como nessas ideologias, as religiões também foram afetadas por homens desejosos por poder. Mas isso aflorou mais para frente. Naquele momento voltei-me para o único refugio que restava, a ciência.


Cumpre realizar duas pequenas ressalvas. Primeira, minha intenção não foi discutir e aprofundar na crítica de Marx ao capitalismo, apesar de considerar válida, apenas de demonstrar sua semelhança com a religião. Segundo, não acrescentei a filosofia budista, muito menos acrescentei nesse texto a anarquia, pois as considero criticas de todos esses sistemas, uma do religioso e a outra do ideológico, respectivamente. Que me fizeram, assim como Dante no poema “A divina Comédia”, não ascender do Inferno pelas escadarias, mas através do estômago do Demônio.

 
 
 

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