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Em busca do Bem maior!

  • Victor Câmara
  • 11 de abr. de 2017
  • 5 min de leitura

Não sei se perceberam, mas no texto anterior busquei em minhas memorias todas as frustrações e tristezas que me assolaram naquela época. Bom, com minha fé abalada e meu mundo desmoronando, não deixei de lutar e buscar em outros poços algo que me fizessem acreditar novamente no mundo suprassensível, imortal e belo. Uma luta interna para salvar aquilo que acreditei ser essencial: A busca pelos Céu, minha utopia maior. Pensava “Não é possível que entre tantas religiões, nenhuma me fará bem e auxiliará nessa caminhada” e isso me levou a diversas religiões como Hinduísmo, Islamismo e, até mesmo, na Filosofia Budista. Eis meu relato.


“Estou lutando incessantemente para alcançar aquilo que me foi negado no cristianismo, através de proibições e regras absurdas das quais caleja o homem para entregar-lhe uma muleta. Um Deus que prefere um povo de que não liga para ele, ao contrário, aniquilou com a segunda tentativa de reconciliação, não com eles, mas com o mundo inteiro. Não posso aceitar uma moral dessas que não inclui as pessoas, ao contrário, aceitam somente para julga-lo e conforma-lo com moldes padrões. Aceitar padrões é o mesmo que anular a consciência das pessoas; anestesia-las para tornar-se mais maleável e submisso. A quem eu me pergunto? ENJAULAR UM PESSOA É O MESMO QUE MATA-LÁ, precisamos sentir a realidade e pensar por nós mesmos.”


Tentei trilhar o caminho mais próximo que tinha, qual seja, o Islã. Porém, apesar de minha lógica ter sido excitada (muito pelo fato do islã ser uma religião metódica e racional – tanto que abominam figuras e preferem a palavra simples e direta), percebi que toda a liturgia voltava-se para a disseminação do ódio, principalmente contra um povo especifico. Toda a anulação de consciência ou a potencialidade para pensar, era anulada no ato por pessoas que utilizam de escritos antigos e “divinos” para justificar seu atos. Novamente, caia no mesmo limbo do cristianismo. Uma espécie de hipnose que recompensa preconceito, autoridade e submissão.


Além disso, não conseguia entender uma religião que, assim como minha antiga, dava tanta importância à terra, fronteiras, marcos simbólicos. Sendo o discurso totalmente oposto, onde aqui na terra material deveríamos nos preparar e policiar para viver nos Céus. Então, entendi através de uma epifania de que o Islã estava mais interessado em adquirir pessoas para seu exercito pessoal de invasão, ou seja, conquistar outros povos e impor a palavra revelada a Moisés tornou-se um objetivo solene, improrrogável onde os fins, literalmente, justificam os meios.


Parti mais para o oriente, a fim de verificar se o veneno incrustado era apenas um mal do ocidente. Parei no meio do caminho quando conheci o Hinduísmo e fiquei realmente impressionado com o tamanho do panteão, bem como admirado com a semelhança que existia entre religiões gregas, egípcias, bretãs, matrizes africanas e principalmente com a cristã (Trindade - Brahma, Vishnu e Shiva – Deus, Cristo e Espirito Santo). Entretanto, logo de inicio percebi como eram divididos entre Varnas (castas). Todas as pessoas nasciam com um fado, sendo impossível lutar contra isso.


O destino é inexorável para os praticantes, mas como era possível, pensava comigo mesmo, que não percebam que Deus nada tem a ver com divisão entre as gentes?


“Este livro Código de Manu, é tido como sagrado e o mais importante dentre os 4 livros sagrados dos Vedas, sendo MANU filho de Brahma e Pai dos homens. Que pai é esse que faz divisão entre castas, julgando-as como inferiores? Que subjuga a mulher como mera reprodutora? Que transforma preconceito em conceito? Muito fácil falar para o pobre que ele é pobre para aprender a ser alguém melhor ou evoluir através da coação e o castigo. Desculpe, não sai da panela para cair direto no fogo.”


Talvez influenciado pelas ideias calorosas de Marx sobre a luta de classes (na época, estava inflamado pela ideia revolucionaria, juntando ao fato de estar magoado e ressentido pelo abalo psicológico da perca da minha religião). Não conseguia engolir uma religião com esses conceitos; contra tudo que acreditava (liberdade, por exemplo). Por mais que escrevessem “A cor da alma (varna) é possível de ser vista pelos videntes, que determina à casta que pertencerá e o dever (Dharma) que desempenhará em toda aquela encarnação, sendo uma ordem natural” nunca aceitei, assim como na cristã, que um Deus pudesse ser tão iluminado de escrever algo poético como isso, mas, ao mesmo tempo, escrever isso: “Uma mulher está sob a guarda de seu pai durante a infância, sob a guarda do seu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais conduzir-se à sua vontade”.


Doravante, percorri os caminhos até chegar ao que achei ser meu destino e linha de chegada. Adentrei nos ermos da filosofia budista. Assim como o hinduísmo, a filosofia budista gira em supremo ao em volto da Lei do Carma. A fim de escapar da Sansara (ciclo infinito de indas e vindas), devemos praticar atos que tragam bom carma. Foi um choque perceber que tudo que busquei estava lá, aguardando minha chegada. Porém, me deparei com a real intenção por trás da Filosofia Budista: Negação da Vida ou, “Viver é sofrer”.


Em breve síntese, o budismo ensina que não devemos lutar contra os desejos ou buscar sacia-los e, sim, parar de desejar; uma completa abstenção de progredir na vida, afinal, não tem sentido continuar retornando para uma ilusão (vida e morte) “A maioria das pessoas não ouve tais conselhos. Pelo contrário, permanece agindo como o homem da nossa história: farto de beber manda a água parar de fluir - Sutra das Cem Parábolas”.


Não, eu não estava pronto para aceitar essa filosofia; não poderia acatar um mundo em que todos os atos passados refletiam nessa vida e nas próximas ( Hoje compreendo melhor essa filosofia, mas isso é papo para outro momento e não quero me adiantar aqui). Então o jovem resolveu voltar para o cristianismo (que é um genérico daquilo tudo que descobri), pois não desejei perder mais tempo em outras religiões para me decepcionar depois. Afinal, já dizia aquele ditado “O diabo nunca é bom não é? Mas é bem melhor um diabo conhecido do que um desconhecido.”.


Para encerrar, deixo a vocês uma das reflexões mais antigas sobre esse assunto... “Sabe aquele dia em que tem uma epifania e, depois dela, você tem certeza de que seu antigo mundo foi superado ou, melhor, seu antigo eu? Pois bem, hoje foi um desses. Engraçado que se eu fosse levar a sério tudo que dizem sobre revelações, Deus teria me revelado que nunca mais me reconciliaria com Ele; que esse novo Eu, nunca mais voltaria a se submeter e sucumbir a tudo que diziam. Um Eu mais duvidoso e carrancudo surgiu, mais magoado. Não posso voltar ao que era, não depois de tantas descobertas e semelhanças. Hoje chorei. Não porquê o pastor tocou no meu coração, mas porque tive a certeza que eu estava em outro caminho, mais distante daquela velha paisagem; Chorei porque declarei guerra contra meu antigo eu que insistia em se apegar no pó ou em estruturas abaladas; Chorei, de tristeza, por ter vencido... Minha razão tomará o lugar de direito, sem mais delongas. Espero encontrar respostas, não mais em deus, mas em Mim mesmo através da ciência e da filosofia.” (Hilário como ao relembrar disso, toda magoa daquele dia vem à tona. Mesmo que tenha superado, essas situações fazem parte de que nós somos, ou melhor, elas são nós. É desumano tentar destruí-las ou suprimi-las.)

 
 
 

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