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Minha última ceia antes de partir.

  • Victor Câmara
  • 7 de abr. de 2017
  • 5 min de leitura

Durante anos, permaneci incólume dentro do regime doutrinário cristão, posso afirmar que todas minhas bases foram advindas dela, era o que pensava. Por estar em uma posição privilegiada de observação, consegui vislumbrar certos detalhes que a maioria de fora não consegue; talvez pelo meu faro investigador e duvidoso, busquei respostas para diversas perguntas; talvez meu apetite por justiça e liberdade, tenham me conduzido por caminhos diversos dos promulgados; talvez, só talvez, minha experimentação tenha me carregado por lugares das quais minha razão, por si só, não teria alcançado. Que ironia, não é mesmo?


Por mais de duas décadas percebi a deturpação se encrustando dentro dos alicerces das religiões como um todo, e não posso deixar de escrever sobre aquela da qual mais me aproximei. Sim, o cristianismo-judaico foi minha religião ou primeira moral, para ser mais assertivo e, portanto, meu primeiro alvo dessa semana. Entretanto, antes de adentrar na minha critica, preciso esclarecer qual sempre foi minha visão do cristianismo-judaico que foi fortificada ao longo dos anos. Para isso:


“Cristianismo ou filosofia do amor metafisico, abriu portas para salvação não do homem na concepção física, mas moral. Uma segunda tentativa de reconciliação por completa daquele ser apático e animalesco que convivia e se conformava com dogmas e liturgias; aquele homem que buscou em leis, criadas por outros homens, os meio para submeter o próximo sobre seu julgo. Leis estas que admitiam servidão, mutilação, guerras, soberba, vingança postas ao lado de leis como a busca pela sabedoria, prudência e amor para com o próximo.


Para mim, o principio maioritário de toda a moral judaica cristão deveria ser a busca por alimento, não o material, mas do imaterial (Sabedoria, Conhecimento, Prudência, Misericórdia mãe da Justiça, Paciência, etc). Todos esses preceitos em nenhum momento poderiam legitimar, pelas suas próprias características, todos os atos empregados por “lideres” espirituais. A nova lei veio para fornecer um norte para esse novo ser humano que precisa de algo além do pão e da carne.


Até mesmo no antigo testamento, todas as vezes que Deus “se expressava através de seus profetas e escritores” a referência de prata e ouro, estavam além do conceito material; alçavam outros níveis. A religião judaica cristã em nenhum momento deveria incentivar a busca e acumulo de riquezas perecíveis, mas, sim, aquelas que durarão enquanto o homem viver. (Provérbios 8-10 e 11)


A religião cristã rompeu com os impedimentos e barreiras que separavam aqueles desacreditados e sedentos, dos Sábios “detentores” do conhecimento. Veio como algo que os auxiliasse para enfrentar o poço de realidade do mundo, preenchendo-o com um combustível artificial chamado esperança.


Preconizamos que a lei criminal do Antigo Testamento — olho por olho, dente por dente — foi anulada por Jesus Cristo e que, segundo o Novo Testamento, todos os fiéis devem perdoar seus inimigos em todos os casos, sem exceção, e não se vingar. Extorquir dinheiro à força ou por manipulação, prender, mandar para a cadeia ou condenar à morte não se constitui, evidentemente, em perdão, e sim em vingança."


Uma visão muito bonita e até mesmo poética, senão fosse trágica pelos fatos que vem ocorrendo entre seu meio. Sabe o pior? Não conseguem enxergar o caminho, melhor dizendo, o final desse caminho. Temo que ocorra o mesmo daquele caso das ovelhas que pularam uma após a outra, no abismo.


Bom, como muitos autores escreveram antes de mim, todas as religiões são provenientes, de certa forma, das ideias de mundo metafisico de Platão. Ou seja, um mundo diverso desse, perfeito, ideal, que serve de parâmetro para todos os pensamentos e atitudes que tomamos aqui, neste plano. A diferença paira sobre a recompensa de que tanto se fala. Os homens (Segundo alguns filósofos e psicólogos que criticam a religião), por si só, são egoístas por fazerem o bem sabendo que daqui um tempo poderão desfrutar de belezas inefáveis para sempre, e esquecerão de todo o sofrimento que passaram. Uma boa ideia para as pessoas que Nietzsche chamava de covardes, justamente por precisarem de muletas para viver.


Além disso, essa ideia de recompensa está amplamente utilizada para subjugar um povo inocente da forma mais banal possível. Sim, todos os lideres/artistas que assisti ou ouvi na tv ou em igrejas, se importavam mais com seus egos do que fazer o bem ou espalhar o coletivismo; tudo, absolutamente tudo, girava ou ainda gira em torno da pompa (ternos alinhados, vestidos desenhados) e sentiam-se verdadeiros filhos do Rei. E quando comecei a questionar isso, vinha com desculpas “Não questione, toda autoridade ligada aqui é permitida por Deus”, “não blasfeme contra os homens do senhor, você não conhece os planos Dele”. Desculpe mãe, vó, tios, mas nunca entrará na minha cabeça toda essa busca por resignação, humilhação, amor, cantos inefáveis, alcançar o céu, enquanto no dia-dia passam por mendigos com nojo; criticam a loucura das ruas; Semeiam a discórdia entre si para buscar um cargo maior dentro da igreja; pregam o preconceito disfarçado de tolerância sobe a justificativa de que “ Deus ama o pecador e abomina o pecado” QUE PECADO? DE AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO... Qual a lógica dessa moral toda? Esta daqui:


Um homem sozinho não deve matar (pecar): se ele matou (pecou), é um réu, um homicida (pecador). Dois, dez, cem homens, se matarem (pecarem), serão também homicidas (pecadores). Mas o Estado (Deus) ou o povo podem matar( pecar), quanto queiram, e seu ato não será um homicídio (pecado), e sim uma ação gloriosa ( que o levará para os Céus).


Sabe qual o maior problema disso tudo? Não está na religião como podem ter percebido, e sim nas pessoas. Pois se utilizam de meios e artifícios para legitimar seus atos ou para não se sentirem culpados. Vou além, porque o problema se intensifica quando chegam à posição de mando e conseguem impor no coletivo sua visão de mundo, sob a proteção de todo o aparato Jurídico, por assim dizer. Não preciso citar a ganância (Mike Murdock, Valdomiro, RR Soares, Gilberto de Paulo – ganância politica), né?


Por fim, porque esse assunto ainda renderá muitos capítulos, deixo aqui um questionamento muito pessoal: Uma pessoa seria boa sem a religião, sem todas as promessas? Se não, então precisamos aceitar de que o ser humano é movido por egoísmo e de que importa uma religião? Um mero artificio poético para convencer alguém de que fazer o bem é importante, porém, o incentivo do dinheiro parece fazer o mesmo efeito (principalmente em nosso tempo). Se sim, então qual sua finalidade? Salvação? Alguém deixa de ir para o céu por não seguir dogmas e liturgias?


Diante de tudo, celebrarei esta como sendo a minha última ceia, antes de começar percorrer esse caminho árduo e complicado .

 
 
 

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