O belo, não era tão belo assim...
- Victor Câmara
- 10 de mar. de 2017
- 3 min de leitura

Li em uma reportagem de que motoristas do Uber pretendiam criar um Sindicato e, o redator, escreveu da seguinte forma “O mal do Brasil, é o brasileiro, por acabar com aquilo que era belo” E mais, outra reportagem atribui a culpa (da precariedade do serviços) ao brasileiro que gosta de pagar mais barato nos serviços, fomentando um indústria exploratória (oi?). Me espanta ler esse tipo de texto, pois não é plausível edificar altares para Uber, ao passo que essa empresa utiliza dos mesmos meios que monopolistas; também esquecem que não existe mal algum em pagar barato em um serviço que, se desconsiderássemos custos supérfluos, ficaria acessível por natureza.
Certa vez, conversando com um taxista, descobri que os aplicativos especiais de taxistas também cobravam uma taxa e os descontos disponibilizados para os usuários era irreal. Nas palavras dele “Cara, essa empresa deseja que trabalhemos de graça. Onde já se viu, dar um desconto de 30% mais a taxa deles? Vo trabalhar o resto da vida igual um camelo?”. Em relação ao Uber, muitos motoristas até falam que recebem em torno de r$ 2000,00. Isso é muito? Para um solteiro sim, mas depende muito da situação. Não esqueçam que vivemos no Brasil, um dos países mais caros.
Fora isso, sabe quem determina o custo da tarifa que o taxista deve cobrar? Isso mesmo, o município. No caso da cidade de São Paulo, uma portaria determina preço de R$ 4,50 e em outros períodos como feriados, um acréscimo de 30%. E, uma lei, esgota a possibilidade de conseguir o alvará...
Nesse mesmo sentido, o Uber e afins não ficam atrás, pois existe uma cobrança, em média, de 20 a 25% sobre as corridas que são realizadas por esses aplicativos, sendo justificado pela aderência do motorista ao sistema deles e todos os custos são de responsabilidade do motorista (balas, água, limpeza, gasolina, manutenção, etc.). Nada mais do que justo. O problema começa, quando essa empresas disponibilizam descontos para ganhar mais usuários, mas essa conta é paga pelos motoristas (mesmo o aplicativo recebendo a taxa) e esquecem de que o “seu funcionário” não tem as mesmas isenções que taxistas (IOF e IPI na compra de veículo, ICMS e IPVA em certos casos).
Entendo que vivemos sobre garras burocráticas do Estado, onde tudo é regulamentado e taxado. E mais, aplaudo iniciativas de pessoas que buscam brechas nesse emaranhado. Entretanto, o que fez minha cabeça coçar é a presença do Estado nos ramos em que é desnecessário.
Esses aplicativos demonstraram a falta de necessidade de autorização do Estado para praticar serviços de transportes, bem como suas regulamentações. Agora, os motoristas não precisam pagar taxa de taxímetro, alvará de estacionamento, cursos de reciclagem, alguns pagam tarifa para cooperativas, outros (em alguns municípios) ficam obrigados a adquirir maquinas de cartão e, consequentemente, mais uma tarifa deve ser reembolsada. Claro que existem motoristas mal educados e folgados, assim como no Uber ou Cabify; que existem “donos” de alvarás que vendem ou alugam para outros a preços exorbitantes, mas isso é micro perto do abuso que sofremos por parte do Estado, nesse caso, municípios.
Sendo assim, o cenário que se estabelece é o seguinte: Taxistas repudiando motoristas e até mesmo outros taxistas que utilizam o 99taxi (um taxista que trabalhou durante 25 anos nisso, me disse que se existe uma classe mesquinha e individualista, essa é a dos taxistas); motoristas que precisam desse trabalho pela necessidade, ficando impotentes para negociar com “seus chefes”, devendo aceitar qualquer cupom de desconto; uma parcela da sociedade sustenta que deve regulamentar (consequentemente mais tributo e mais redistribuição de custos para nós, consumidores), e outra culpa a si mesma por incentivar empresas inovadoras, que até possuem suas falhas, mas desejam entregar um serviço com custo mais rentável.
Então qual seria minha solução? Bem simples, afastar o Estado desse nicho comercial. Oras, ninguém deveria ter a permissão para trabalhar como motorista. Isso, as empresas privadas de transportes, deixaram bem claro. E mais, as cooperativas de táxis, que já existem, poderiam se unificar e criar sua própria empresa ou utilizar as existentes (99taxi, EasyTaxi, etc). Tudo isso reduziria drasticamente os preços; empresas de propaganda pagariam para ter os seus produtos estampados nesses apps, fomentando descontos ainda mais vantajosos ( tanto para usuário, como para empresa) e todo mundo ficaria feliz ou mais próximo disso.
Mas não. Preferimos tomar os caminhos mais tortuosos, ser enganados, pagar bandeira 4 e, no final dessa corrida desorganizada, acabamos por ficar com cara de tacho.
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