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Vaidade apropriada

  • Victor Câmara
  • 23 de fev. de 2017
  • 4 min de leitura

Existe uma pessoal que está maluco e totalmente fora da realidade. Entrar no facebook ultimamente tem me cansado, principalmente depois da última empreitada dos paladinos virtuais. Sim, já sabem do que escreverei: Anderson Varejão e Eminem, dois apropriadores culturais molestos. Por favor, né...


Mas, então, a garota tinha legitimidade para usar? oras, não está resistindo contra uma doença? Não, Victor! Ok, então a resistência é mais especifica? Claro! Beleza, nesse caso, o brio vai contra a cultura que subverte as “mais rebaixadas” através da assimilação, ou talvez que as transformam em negócios lucrativos?


Uma mentalidade dominante que aterroriza outras “contra culturas”, taxando-as com perjúrios dos mais criativos, para depois conceituar como cult?


Poderia discorrer sobre esse questionamento, mas o que pega mesmo, pode resumir-se nessa frase: A vaidade do meus status, exibe ostentação*. Sejamos realistas, ok? A maioria que discute na internet não está interessado em defender alguma coisa, com o objetivo de modificar a situação. QUEREMOS QUE O PICADEIRO PEGUE FOGO! E esse fogo deve ser mantido com palha, para não durar muito tempo.


Muitos vem adotando posturas vazias, voltadas somente para quantidades de joinhas que receberão, e cremos nisso como alguma forma válida de reconhecimento. Seguimos ditames explícitos (pelo menos para mim) e os adotamos como se fossem nosso estilo. Ou todo mundo já se esqueceu da onda de coques samurais? Muitos cabelos raspados, mas nenhuma ideologia samurai adotada (como por exemplo, o respeito absoluto ou a dedicação à perfeição).


Pessoas com culturas ditas como diferentes, desejam veementemente ser reconhecidos, olho o paradoxo, por essa própria condição; fincam suas bandeiras sobre a marginalidade (entendam no sentido de “estar À MARGEM da sociedade”) e não querem sair. Obvio, o muro foi construído de forma tão áspera que ninguém pode comunicar-se com o oposto. Tentar conciliar dois mundos, agora é sinônimo de traição.


Afirmaram no peito de que a cultura negra foi desrespeitada por alguém externo utiliza-la, quando momentos atrás (alguns anos para falar à real) subjugavam. No entanto, o verdadeiro estereótipo foi criado devido a disputa religiosa de quem engana mais e, consequentemente, detém o poder de comando sobre nossas vidas. O turbante foi (ou ainda é) um estereótipo de matizes africanas ou hindus “ligadas ao Diabo”. Outro exemplo disso, foi a modificação que fizemos com a cultura indígena, taxando-os de demônios ou subdesenvolvidos.


Engraçado que diversos projetos sociais visam criar uma valorização cultural para acabar com o que disse acima, trabalham em simpósios e oficinas diariamente, no entanto, algumas pessoas acreditam que postar na mídias sociais seu turbante colorido ou dreadlocks significa resistência ou/e representa alguma forma de aceitação. Desculpem, não. Primeiro, como disse em parágrafos anteriores, usamos somente aquilo que faz parte da cultura de embelezamento e algum famosinho utilizou. Segundo, essa história de que turbante representa resistência, na verdade é uma desculpa para ganhar likes e satisfazer egos.


E mais (agora irei apelar, me segura) resistência está nas atitudes que tomamos, junto com nossas palavras! Entendo e legitimo uma luta contra a proibição da livre expressão. Vou além, acredito que projetos como #PorMaisTurbantesNasRuas trazem benefícios gigantescos (como exemplo, a valorização da auto estima, conscientização de que podemos sim, conviver sem que exista alguma cultura “superior”) para a sociedade em geral. Porém, a situação que desencadeou essa discussão, bem como os discursos, passam muito longe dessa luta. Criticam tanto a indústria da moda por ditar ordens sobre o que vestir, como portar-se, mas não conseguem vislumbrar que seguem o mesmo caminho. Cuidado! Observaram por tanto tempo o abismo, que ele acabou por olha-los de volta.


Custava elaborar um texto explicado as origens e agradecer (como muitos o fazem) “Olha, esse turbante que você está usando é muito bonito, mas, durante um bom tempo, foi considerado um símbolo de resistência. Obrigado, por partilhar nossa cultura. Aproveitando, quer levar mais um?” AH! Se é contra essa venda, por favor, dirija-se à praça da republica, especificamente segunda, para ver imigrantes africanos vendendo não só turbantes, orixás amadeirados entre outras peças, como tocando tambores diante da mais variada plateia e não toquei junto porque não tenho um tambor.


Fora isso, considero a polarização social, o veneno que impregna nossa mentes. Quer um exemplo? Há um bom tempo, li uma reportagem que transmitiu o desapontamento de alguns empresários, pois suas marcas estavam ligando-se aos jovens moradores das comunidades (na real, quiseram falar pobres). O mesmo princípio aplica-se ao turbante. A negra ou o empresário, não admitem que seu inimigo repugnante, compartilhe do mesmo gosto e para isso constroem argumentos para mascarar “Minha cultura é superior, abstenha-se de usá-la”. A cada passo para frente, mil para trás...


Para concluir (ufa!), passamos tanto tempo dentro de nossas celas, bombardeados com “você deve fazer isso” ou “não use aquilo”, que nosso desejo paira sobre a liberdade, mas a liberdade de ser o carcereiro. Assim, termino citando uma frase do Nelson Mandela “Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão”


*O vazio da minha postura, demonstra ostentação

 
 
 

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